Bem-vindos a um fórum que se pretende de discussão livre sobre todos os temas que acharem pertinentes, mas que se pretende direccionado para as questões da liderança.
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Saturday, June 5, 2010

Um Passo em Frente!

Nos momentos difíceis emerge o verdadeiro carácter das pessoas. Alguns, dão um passo em frente e colocam-se ao serviço de Portugal - a isto chama-se liderança - outros, oportunistamente, atiram as suas frustrações interiores contra tudo e todos.
Na situação difícil que Portugal vive, não poderia ter mais actualidade esta citação de John Fitzgerald Kennedy: “Não perguntes o que a tua pátria pode fazer por ti, pergunta o que podes fazer por ela”.
Não adianta tentar aligeirar responsabilidades e tentar passar o ónus da crise para o parceiro do lado, somos nós, enquanto nação, para o bem ou para mal, os maiores responsáveis pelo momento menos bom que vivemos.
Na discussão do orçamento de Estado para 2010, há apenas poucos meses, os partidos da oposição, hoje paladinos da redução da despesa pública e do combate ao défice, não manifestavam essa preocupação, muito pelo contrário, ainda se lembram da polémica em redor da discussão das transferências para a Região Autónoma da Madeira.
De igual forma, nos últimos anos, qualquer proposta do Governo para tentar racionalizar a utilização de recursos e reduzir as despesas do Estado sofreu ataques ferozes da oposição. Bem sei que a memória é traiçoeira, por isso deixo-lhes um exemplo recente, de Abril de 2010: o encerramento, no período nocturno, do serviço de atendimento permanente em Valença.
Na política não pode valer tudo e os portugueses, mais tarde ou mais cedo, sem a poluição provocada pelo ruído de fundo, saberão analisar a real situação do país e a insustentabilidade do modelo sócio-económico vigente.
Nos últimos trinta e seis anos, entranhou-se na consciência colectiva dos portugueses a ideia que não temos obrigações, apenas direitos e que uma entidade abstracta, denominada Estado, pagará a factura, senão veja-se o caso das auto-estradas sem custo para o utilizador: Pura ilusão, não há almoços grátis, andamos há anos a empurrar a factura com a barriga, penalizando as próximas gerações.
Criticamos o excesso de impostos, mas com a mesma facilidade elogiamos quem foge aos impostos ou falsifica a declaração de rendimentos para beneficiar de prestações sociais pagas por todos.
Queremos os salários praticados na Alemanha, mas para além de reclamar, fazemos muito pouco por isso, quando os trabalhadores alemães, alguns emigrantes portugueses, apresentam uma produtividade bem superior à registada em Portugal.
Não conheço uma declaração de um sindicato contra o número de feriados, as famosas pontes ou o número de dias de férias na administração pública, pelo contrário, assistimos sim a um mal-estar geral quando ameaçam tirar-nos supostos direitos adquiridos, como esse feriado tradicional do povo português, o Carnaval.
Para inverter este definhar do nosso país, urge, no quadro de um entendimento de regime, definir uma estratégia e um novo modelo económico de crescimento para a nossa economia.
Neste momento, talvez devêssemos tentar recuperar a única tentativa conhecida para sistematizar um modelo económico para Portugal: “O Relatório Porter”.
Mal recebido pela “inteligenzia” nacional, as conclusões do estudo elaborado por Michael Porter, em 1994, apontavam “tout court” para um enfoque em determinados clusters, onde detínhamos vantagens competitivas.
Uma nota final de homenagem e de reconhecimento ao Banco Alimentar Contra a Fome, que este fim-de-semana deu, mais uma vez, um passo em frente em direcção aqueles que mais precisam. Bem ajam.

Friday, May 14, 2010

"Dieta Yo-Yo"

O acordo para impor medidas de austeridade aos portugueses foi alcançado. Na realidade estávamos, literalmente, entre a espada e a parede e sem qualquer alternativa. No final do ano, veremos se as medidas propostas serão suficientes ou se ainda teremos mais surpresas desagradáveis.
As medidas propostas são, claramente, um último recurso, mas que era previsível pelo menos, há alguns meses, perante a situação caótica a que chegou a Grécia, incendiando os mercados financeiros e colocando em causa o próprio Euro.
O acordo estabelecido entre o PS e o PSD é positivo, face à completa irresponsabilidade de alguns dos restantes partidos com assento na Assembleia da Republica, mas é insuficiente, serve apenas para nos manter à tona de água.
Na realidade, apesar da dureza destas medidas de austeridade, que antecipam as metas do Programa de Estabilidade e Crescimento aprovado, continuam por realizar as reformas estruturais adiadas há mais de trinta anos, sem as quais não é possível controlar a despesa e equilibrar as contas públicas de uma forma sustentada.
Este conjunto de medidas é “apenas” mais uma “dieta yo-yo”: diminui-se os sintomas da doença para um nível aceitável, procurando, por este meio, agradar aos mercados financeiros e às empresas de rating, mas não se cura o doente, ficando por resolver, mais uma vez, os desequilíbrios estruturais que, desde meados da década de 70, condicionam o crescimento da nossa economia e tornam a gestão das finanças públicas uma verdadeira bomba relógio, ao sabor da evolução da conjuntura económica internacional.
Nesta matéria não há virgens, os diversos partidos, que tiveram responsabilidades governativas, bem podem atirar pedras uns aos outros, porque já não há telhados de vidro para partir e não adianta ir em procissão ao beija-mão em Belém, factos são factos: nos trinta e seis anos de Democracia, recentemente comemorados, não se encontra um único Governo que tenha conseguido equilibrar as contas públicas.
Portugal não está em crise, ultrapassados os excessos do 25 de Abril, Portugal definha desde 1991.
Entre 1974 e 2009, os vários ministros das finanças que assentaram arraiais no Terreiro do Paço, figuras ilustres, fazedores de opinião e de crítica fácil, não conseguiram, para amostra, um único ano em que as contas públicas apresentassem um saldo positivo. Na verdade, o ministro das finanças que esteve mais perto e conseguiu mesmo apresentar ligeiros indícios de redução da despesa, em 2006, é o actual detentor da pasta: o Prof. Teixeira dos Santos.
Os tempos são de oportunismo e de demagogia fácil, enquanto no Reino Unido o Primeiro-Ministro, recém-eleito, forma um governo de coligação, em Portugal a hipótese de uma coligação entre o PS e o PSD é colocada ao nível de uma heresia e a uma, mais que certa, excomungação. A história fará, certamente, justiça ao Governo de coligação, que assumiu, entre 1983 e 1985, em circunstâncias muitos difíceis, os destinos de Portugal.
Não podemos continuar com “dietas Yo-Yo”, Portugal precisa de um Governo reformista de grande consenso nacional, enquanto estivermos sobre a ameaça do défice nunca seremos um país de homens livres.

Friday, April 30, 2010

Portugal Primeiro! (II)

Num cenário de recobro da maior crise financeira internacional, desde a grande depressão dos anos trinta, os mercados pressentem as fragilidades do Euro e as hesitações das instituições europeias na resposta aos movimentos especulativos, que ameaçam as economias mais debilitadas.
Depois da Grécia, chegou, infelizmente, tal como prevíamos a vez de Portugal estar sob o foco dos especuladores, com reflexos imediatos no seu rating da dívida pública.
Sabemos que Portugal e a Grécia não estão na mesma situação: as contas públicas portuguesas são credíveis e Portugal tem demonstrado, na sua história recente, adoptar medidas duras de consolidação orçamental duras, quando tal é necessário. Contudo, a resposta titubeante da União Económica e Monetária (UEM) à crise grega lançou no mercado uma série de dúvidas quanto à solidez do Euro e ao grau de solidariedade entre os seus membros, penalizando a taxa de câmbio e o rating da dívida pública portuguesa.
Mas não pensem que isto ficará por aqui, as diferentes condições políticas e económicas dos estados membros da UEM criaram um clima favorável aos especuladores para estes atacarem outros países do Euro a atravessar dificuldades, como a Espanha ou a Irlanda, aliás basta recordar o que aconteceu no início dos anos 90 ao Sistema Monetário Europeu, provocando a saída do Reino Unido.
Como já referi aqui, embora o reflexo visível seja o desequilíbrio das contas públicas e o endividamento externo, o maior problema de Portugal não é, fundamentalmente, de cariz orçamental, mas sim de falta de competitividade do seu modelo de crescimento, sobretudo desde que o país aderiu ao euro.
Na verdade, eliminados os filtros da inflação e da desvalorização cambial, Portugal perdeu, rapidamente, quota no mercado das exportações para as economias emergentes, o que resultou do aumento dos custos do trabalho, que suplantou o crescimento da produtividade, mas sobretudo da globalização e das alterações no paradigma vigente no comércio mundial.
Não alimentemos ilusões, num cenário de lenta recuperação da economia mundial e com perspectivas de fraco crescimento para a economia portuguesa, o processo de reequilíbrio das contas públicas só é possível, em apenas quatro anos, ajustando, drasticamente, as despesas à nossa realidade orçamental.
Tal como qualquer família portuguesa bem sabe, a situação é insustentável, não podemos continuar a gastar mais do que aquilo que produzimos, financiando o nosso descontrolo orçamental através da emissão de dívida pública, sob pena de colocarmos em causa o Estado e, em última análise, o próprio país.
Não temos margem de erro para continuar a assistir a exercícios de autismo na nossa Assembleia da República, é indispensável que PS e PSD estabeleçam, rapidamente, um Pacto de Estabilidade realista e patriota, que permita concretizar, até ao final desta legislatura, uma agenda reformista e o saneamento financeiro do Estado.

Portugal Primeiro!

O PSD tem uma nova liderança. Está criada uma nova janela de oportunidade para os dois principais partidos portugueses estabelecerem pontes de diálogo e de entendimento.
A situação do país assim o exige.
Neste momento, enquanto nos entretemos com Comissões de Inquérito Parlamentar, que só desacreditam a Assembleia da República e não são mais do que tácticas de guerrilha para tentar antecipar os calendários eleitorais, o futuro de Portugal encontra-se em standby.
Estamos perante o sério risco de assistirmos a uma expansão económica nos países do centro da União Europeia, pontuada por políticas monetárias e orçamentais restritivas, enquanto, em simultâneo, os países da periferia, como Portugal, deverão registar ritmos de crescimento anémico ou mesmo negativo.
Este cenário de recuperação da actividade económica deverá assentar na dinâmica da Alemanha, que tem acumulado superhavits comerciais sobre os restantes países da União Europeia e, em particular, sobre os denominados PIGS (Portugal, Grécia, Itália e Espanha), o que não deixa de ser um exercício de alguma perversão e mesmo sadismo.
A entrada na União Europeia constituiu uma oportunidade para Portugal e para outros países em condições semelhantes: consolidação de um regime democrático, apoios à formação, à modernização e transformação do tecido económico e empresarial, mas como sabemos não há almoços grátis.
A globalização e a emergência de países como o Brasil, a Rússia, a Índia e a China alteraram, a partir de meados da década de 90, o paradigma do comércio mundial, obrigando a União Europeia, acomodada, a acelerar o passo e a queimar etapas, para mal dos nossos sectores tradicionalmente exportadores.
Iludiram-nos ou deixamo-nos iludir com a quimera do Euro.
Não temos mais margem de erro, Portugal precisa de um grande consenso nacional. Não podemos continuar a pedir, indefinidamente, sacrifícios aos portugueses, sem lhes dar, no mínimo, a perspectiva de, a médio prazo, podermos viver num país mais desenvolvido e numa sociedade mais justa.
Saibamos pois aproveitar a abertura demonstrada por Pedro Passos Coelho para rever a Constituição da República Portuguesa e realizar já as reformas pensadas e estudadas, durante décadas, mas sempre adiadas por conveniências políticas ou por receio da reacção das corporações.
O PS, o PSD e o PP têm o dever de estabelecer um Pacto de Estabilidade, que permita concretizar, até ao final desta legislatura, uma agenda reformista e o saneamento financeiro do Estado. A implementação de um Orçamento de Estado de base zero em 2011, as reformas da administração pública, do sistema eleitoral, da justiça e a regionalização são algumas das condições necessárias à sustentabilidade do nosso país, como membro de pleno direito, no seio da União Europeia.
Em 2013, os diversos partidos terão, em devido tempo, a oportunidade para esgrimir argumentos e conquistar a confiança dos portugueses, mas agora Portugal está em primeiro lugar.

Encruzilhada

Há cerca de 11 anos, num cenário de expansão da economia mundial e com Portugal a receber, em simultâneo, generosas transferências de fundos comunitários, alguns perfeitamente desbaratados, deixamo-nos inebriar pelo Euro, que prometia ser o novo “ouro do Brasil”.
Comemorámos a nossa adesão ao Euro e, com alguma nostalgia, o princípio do fim do Escudo. Este passo culminava o processo de transferência da nossa política monetária e cambial para o Banco Central Europeu.
Rejubilamos nesse momento com satisfação e orgulho por integrar, na altura, os países da União Europeia que compunham o auto-intitulado pelotão da frente.
Aceitamos de braços abertos a oportunidade, mas não avaliámos, adequadamente, nem o grau de exigência assumido, nem os riscos implícitos e as limitações daí resultantes na condução da nossa política económica.
Em contra corrente, nesta quase unanimidade nacional, destacou-se a posição tranquila e conhecedora do Prof. João Ferreira do Amaral, que nos foi alertando, em devido tempo, para a outra face da moeda, sobre a qual não estávamos, efectivamente, preparados.
O mesmo consenso, que se reuniu para entrar no Euro, não foi possível para efectuar as reformas que este impunha, sob pena de cairmos numa situação económica semelhante à actual, sem os instrumentos de política económica necessários e suficientes para encetar uma recuperação consolidada da nossa economia.
Na senda da nossa tradição ancestral e, infelizmente, bem portuguesa, fomos desperdiçando oportunidades para efectuar as tais reformas estruturais que todos achamos imprescindíveis, desde que não comecem por nós.
Reconheça-se que a instabilidade política não ajudou.
O executivo governamental que negociou a adesão ao Euro não chegou ao fim e o novo Governo eleito, em 2002, teve o mesmo destino.
Em 2005, Governo recém-eleito debateu-se com um grave desequilíbrio das contas públicas e foi atingido, a meio do seu mandato, pela maior crise económica mundial dos últimos cem anos, que ainda persiste e tem condicionado qualquer movimento reformista.
Se não tivéssemos aderido ao euro teríamos sentido de uma forma mais intensa a crise financeira e económica que abalou o mundo, mas sem os instrumentos de política monetária e cambial a recuperação torna-se muito mais penosa e lenta.
O Governo actual, eleito em 2009, sem maioria parlamentar, apresentou, recentemente, o Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) para 2010-2013, mas está, de acordo com todos os opinion makers, a prazo, não devendo passar de 2011.
Nesta zona euro, em que nos movimentamos, restam-nos as políticas fiscal e orçamental, ou seja, não tenhamos quaisquer dúvidas, a recuperação da nossa competitividade nos mercados externos passa, pelo menos nesta fase inicial, pela diminuição do poder de compra dos portugueses.
Mas todo este esforço será inglório, caso o Estado não adopte nele próprio medidas de contenção e de redução da despesa pública e os partidos de solução governativa, PS e PSD, não celebrem um Pacto, que permita, finalmente, concretizar as reformas estruturais adiadas há décadas.
São momentos como este que distinguem os políticos dos estadistas, têm a palavra o Primeiro-Ministro e o novo Presidente do PSD.

Há mais vida para além do défice?

Num dos intervalos da encenação ou da novela a que vamos assistindo na Comissão de Ética da Assembleia da República e que abre, invariavelmente, os noticiários televisivos, o Primeiro-Ministro, garantida a aprovação do Orçamento de Estado, apresentou a tão desejada proposta de actualização do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) para o período de 2010-2013.
Tendo em consideração que, em 2009, o défice orçamental e a dívida pública terão atingido, respectivamente, 9,3% e 76,6% do PIB, esta proposta de PEC, para ter um mínimo de credibilidade, não poderia, necessariamente, anunciar medidas simpáticas para os portugueses.
Entre outras medidas, o PEC propõe para atingir, obrigatoriamente, em 2013, um défice público inferior a 3,0%: o congelamento dos aumentos dos salários reais da administração pública; o reforço do Programa de Reprivatizações; a antecipação da convergência das pensões da CGA com o regime geral de aposentações; a redução dos benefícios fiscais; a definição de um tecto para as despesas sociais; a criação de um escalão de 45%, em sede de IRS, para os rendimentos anuais superiores a 150 mil euros; o adiamento de duas das linhas de TGV previstas e a cobrança de portagens em algumas das SCUT.
Por muita cosmética que se possa fazer à volta do tema, pede-se, efectivamente, um sacrifício adicional aos portugueses.
Não tenhamos ilusões, num cenário de lenta recuperação da economia mundial e com perspectivas de fraco crescimento para a economia portuguesa, o processo de reequilíbrio orçamental só é possível, em apenas quatro anos, recorrendo a um mix de política orçamental e fiscal, que permita um aumento da receita fiscal, a diminuição das prestações sociais e receitas extraordinárias.
Tal como qualquer família portuguesa bem sabe, a situação é insustentável, não podemos continuar a gastar mais do aquilo que produzimos, financiando o nosso descontrolo orçamental através da emissão de dívida pública, sob pena de colocarmos em causa o Estado e, em última análise, o próprio país.
Claro que podemos sempre, em alternativa, seguindo a sugestão de alguns dos partidos da oposição e de alguns sindicatos, tomar um qualquer prozac e assobiar a música da banda que se afundou junto com o Titanic, mas nem isso seria original, aliás basta olhar para o que se está a passar na Islândia ou na Grécia.
Face ao focus que tanto o Fundo Monetário Internacional (FMI), como as agências de rating têm sobre Portugal, a aprovação do PEC por parte da Comissão Europeia é condição sine qua non para o Governo poder preparar a definição de qualquer estratégia de crescimento da economia nacional.
Dirão alguns, mais pessimistas, que a aprovação do PEC adia apenas o inadiável.
De facto, o PEC propõe “apenas”, aliás à semelhança dos restantes aprovados até hoje, diminuir os sintomas da doença, mas sem a curar o doente, ficando por resolver os desequilíbrios estruturais que, desde meados da década de 70, condicionam o crescimento da nossa economia e tornam a gestão das finanças públicas uma verdadeira bomba relógio, ao sabor da evolução da conjuntura económica internacional.
Há certamente mais vida para além do défice, mas enquanto estivermos sobre esta verdadeira ameaça nunca seremos um país de homens livres.

Wednesday, September 2, 2009

Silly Season ou talvez não?

O ponto alto da silly season costuma ser o mês de Agosto, período em que, usualmente, não se passa nada de importante e podemos actualizar, tranquilamente, as nossas leituras estendidos numa toalha à beira mar.
No mês de Agosto, os colégios fecham e somos, naturalmente, forçados a meter férias. Aqueles que podem vão de malas e bagagens para o Algarve ou para as nossas aldeias, para quem ainda tem essas referências mais rurais, onde os emigrantes, que regressam a Portugal, ajudam a animar as festas populares.
Mas este ano, estamos a viver um Verão atípico, não temos jogos olímpicos, campeonato do mundo de futebol ou semelhante. Além disso, no nosso campeonato de futebol, agora designado superliga, não há discussões jurídicas sobre quem sobe ou desce e não há “Verão quente” com transferências de jogadores do Benfica para o Sporting ou para o FC Porto.
Mesmo os nossos candidatos a vip’s ou socialites andam muito sossegados, apenas a Diana Chaves dá um ar da sua graça, mas muito pueril. Reconheço que as televisões nacionais têm feito um esforço para recuperar a silly season, quer alimentando o folhetim da morte de Michael Jackson, quer dando tempo de antena a personagens como o Prof. Medina Carreira que, hoje em dia, é mais um entertainer especializado numa antiga tradição portuguesa: dizer mal de tudo.
Na realidade, este Verão, os portugueses, em pleno Agosto, nem parecem estar de férias, a crise económica e os políticos insistem em não nos dar descanso, dominando a actualidade.
É verdade que estamos a pouco mais de um mês de um ciclo eleitoral intenso, legislativas no próximo dia 27 de Setembro e autárquicas no dia 11 de Outubro, mas podíamos ter alguma da renovação de personagens e de conteúdos, tantas vezes anunciada.
A Presidente do PSD, na sua já reconhecida fama e proveito de incapacidade para comunicar, em que só por coincidência o que fala corresponde ao que pensa e faz - será uma política de verdade ou será uma nova forma de não dizer a verdade – anunciou a lista de candidatos à Assembleia da Republica e comunicou, que ainda é cedo para apresentar o seu programa eleitoral.
Na lista de candidatos a deputados apresentada, a coerência imperou, quem não é por mim fica de fora. A única novidade foi a introdução da figura dos bons e dos maus arguidos em processos judiciais. Os bons são aqueles em quem a Dra. Ferreira Leite tem confiança, ou seja, fazem parte dos seus apoiantes, os outros, por exclusão de partes, não podem ser, obviamente, candidatos a qualquer lugar.
O facto de o PSD não ter apresentado o seu programa eleitoral também não constituiu nenhuma surpresa, porque o pouco que foi ventilado pelo seu gabinete de estudos foi o suficiente para aterrorizar qualquer português.
Mas nem tudo são más notícias, a economia portuguesa apresentou, no segundo semestre de 2009, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística, um crescimento real de 0,3 pontos percentuais, confirmando os primeiros sinais de recuperação da grave crise económica que assolou o mundo e o acerto da estratégia definida pelo Governo Português.
Esta evolução positiva, conjugada com os sinais de reanimação das principais economias da União Europeia, permite algum optimismo sobre a evolução da economia portuguesa e perspectivar alguma redução do desemprego no início de 2010.
Enfim, uma maçada para alguns pessimistas militantes, mas é, seguramente, uma óptima notícia para quem acredita em Portugal e nos portugueses.
In Tribuna de Loures 15 Agosto/2009

"Homens Bons"

O Governo decidiu marcar as eleições autárquicas para o próximo dia 11 de Outubro.
As eleições autárquicas são o momento em que as populações elegem os seus representantes nas Câmaras Municipais, nas Assembleias Municipais e nas Assembleias de Freguesia e em que celebramos o poder democrático na sua forma mais pura, pelo menos, em termos de proximidade entre eleitos e eleitores.
O Sr. Presidente da República entendeu marcar as eleições legislativas para próximo dia 27 de Setembro, mas as pressões para que estas se realizassem na mesma data das eleições autárquicas assumiram, infelizmente, uma dimensão intolerável.
Na realidade, as pressões feitas em defesa da tese da simultaneidade das eleições autárquicas com as legislativas assentaram, fundamentalmente, em falsos argumentos economicistas e constituíram mais uma tentativa de menosprezar o papel e a importância dos municípios. A defesa desta tese por quem já tinha defendido a suspensão da Democracia por seis meses não nos surpreendeu, mas o silêncio comprometedor, no interior do PPD, sim.
Para que não subsistam dúvidas, aqui fica registada a minha declaração de interesses: Defendo, incondicionalmente, a aplicação do princípio da subsidiariedade, designadamente, na administração pública e as virtualidades da criação de um nível intermédio de gestão do território português, tendo em vista um desenvolvimento económico sustentável, aliás como está previsto na Constituição da República de 1976.
De acordo com a Constituição, "as autarquias locais são pessoas colectivas territoriais dotadas de órgãos representativos, que visam a prossecução de interesses próprios das populações respectivas" (art. 235º CRP) e as categorias de autarquias previstas no continente são as freguesias, os municípios e as regiões administrativas (art. 236º CRP).
A não concretização da regionalização constitui, na actualidade, um dos maiores condicionalismos à necessária democratização e racionalização da administração central e à própria mudança de modelo de crescimento económico.
Na União Europeia, a existência de regiões com órgãos eleitos em quase todos os países não afecta a sua coesão, porque afectaria a nossa coesão nacional?
Enquanto se marca passo na regionalização, vão-se aprofundando as disparidades no território. O fosso entre as regiões marcadas por uma ruralidade periférica e as regiões mais urbanizadas acentua-se cada vez mais.
Nos últimos trinta anos, as autarquias e os autarcas têm sido, inquestionavelmente, os principais responsáveis pela verdadeira “revolução” que este país sofreu ao nível da qualidade de vida das suas populações.As autarquias têm sido, igualmente, elementos de modernidade, de mudança e de implementação de processos de melhoria contínua, enquanto a Administração Central permanece ainda muito amarrada pelas forças corporativas, que travam qualquer tipo de inovação ou de competitividade assente na livre concorrência.
O recente fracasso, que constituiu a tentativa de alteração da Lei das Autarquias Locais, é, lamentavelmente, um bom exemplo da forma como ainda actuam algumas dessas forças corporativas.
Os autarcas, tantas vezes, vilipendiados ou menosprezados, são os verdadeiros herdeiros do legado, que os homens bons do municipalismo deixaram neste país e, constitui, nos dias de hoje, uma verdadeira afronta, completamente anacrónica, a manutenção da figura dos Governadores Civis.
São também os autarcas, que mais estão próximos dos problemas quotidianos dos portugueses e, que muitas vezes, estão bem longe, na maior parte do tempo, das questões que ocupam o centro do debate político.
O país deve muito a esta geração de autarcas, que dedicaram a sua vida à defesa da causa pública e dos valores da Democracia e, alguns deles, são mesmo uma referência em termos de liderança, quer através do seu exemplo, quer através da sua inteligência emocional.
Poderia, felizmente, dar vários exemplos de autarcas com estas características e dos mais diversos quadrantes partidários, mas um deles é, seguramente, o Presidente da Câmara Municipal da Amadora, Joaquim Raposo, que se impõe de forma carismática, liderando pela sua coragem e dedicação, que transmite aos seus colaboradores, na defesa do serviço público.
Embora muitas vezes em sentido contrário à força da onda, há ainda muitas razões para continuar a acreditar em Portugal e nos portugueses.
In Tribuna de Loures 15 Julho/2009

Tuesday, August 4, 2009

"O Regresso do Marcelismo"

Para quem ainda podia ter alguma dúvida sobre o caldo ideológico onde nada Manuela Ferreira Leite, a sua última intervenção pública, na recente Conferência do Diário Económico "Transformar Portugal", foi esclarecedora.
A intervenção da Dra. Ferreira Leite foi escrita e lida por ela, portanto parece-nos, que o Prof. Pacheco Pereira não poderá alegar, desta vez, que a líder do PSD não sabe falar, nem comunicar e diz, muitas vezes, coisas, que não têm qualquer aderência ao que verdadeiramente pensa.
A sua intervenção escrita e a resposta a algumas questões, colocadas por participantes na Conferência e transcritas no Diário Económico, corporizam o regresso à matriz do Marcelismo, que não se importa de suspender a Democracia por questões de paz social, crise económica ou por outra miudeza qualquer, a bem de Portugal e dos portugueses.
Diga-se a verdade que, embora o PPD/PSD tenha sido o grande albergue dos Marcelistas, que julgavam poder reformar o antigo regime por dentro, com operações cosméticas, este Partido, nunca foi dirigido por gente com esta matriz ideológica.
O tempo veio dar a razão a Luís Filipe Menezes, que foi visionário ao vislumbrar o perigo que ameaçava a base ideológica democrata e liberal do PPD. O PPD/PSD é hoje, efectivamente, dirigido por elitistas, sulistas e "liberais".
Elitistas, porque sempre pertenceram às elites, mesmo no antigo regime; sulistas, porque vivem há anos da ocupação de lugares de nomeação pública e dos favores da Capital do Império, por isso, nunca os verão a defender a regionalização e, finalmente, "liberais", porque defendem o Estado paternalista, que os ampara nas boas e más conjunturas, em detrimento de um Estado Social moderno. São uns "liberais", assim, assim, sob a batina de um Estado proteccionista, numa economia semi-aberta ao exterior e à concorrência. Nunca os verão defender o fim das corporações, eles personificam o corporativismo na verdadeira acepção da palavra.
Em suma, nada tem a ver com o liberalismo inspirador, que emergiu no Porto. Francisco Sá Carneiro, Mota Pinto e outros fundadores do PPD/PSD devem estar, neste momento, a dar voltas no túmulo, quando escutam esta defensora do casamento para efeitos reprodutivos.
A sua intervenção, nesta Conferência do Diário Económico, está tão cheia de pérolas, como vazia de soluções para os problemas dos portugueses.
Diz a Senhora que gosta dos ricos e tem pena de não ser rica, talvez por isso, queira "rasgar" e acabar com as políticas sociais e com o sistema nacional de saúde generalista e, tendencialmente, gratuito.
A Dra. Ferreira Leite ataca os investimentos públicos estruturantes, mas pertenceu ao Governo que, durante 10 anos, mais defendeu estes investimentos e não vivíamos nenhuma recessão económica, que justificasse esta intervenção do Estado na economia ou estaremos todos com Alzheimer.
Neste período, também designado como o ciclo do betão, os agentes económicos não estavam dependentes do Estado, aliás, nestes anos, não nasceram alguns dos grupos económicos, que hoje dominam a nossa economia, claro que não.
No próximo dia 27 de Setembro teremos, como não tínhamos há mais de 20 anos, um verdadeiro choque ideológico, entre quem defende, em pleno Século XXI, o regresso às políticas da "Primavera Marcelista" e, quem acredita num Portugal moderno, democrático e humanista, inserido numa sociedade global.

In Tribuna de Loures 31/Julh2009

Thursday, July 2, 2009

Quem tem medo do investimento público?

A proximidade de eleições, designadamente, as legislativas, parece ter o condão de fazer agitar, mais do que nunca, a dança das cadeiras, pois só assim se justifica o Manifesto dos 28 contra os investimentos públicos, em particular, o TGV e o novo aeroporto de Lisboa.
Na realidade, depois de uma acesa discussão sobre o investimento público, que durou até ao final de 2007 e que envolveu uma panóplia de actores de todos os quadrantes, quando o que estava em causa, na agenda política, era o combate ao défice orçamental e o controlo das contas públicas, nada faria prever que, na actual conjuntura, esta temática voltasse à ordem do dia.
De facto, tendo em consideração, que o mundo vive a pior recessão económica desde os anos trinta e que todos os Governos, sem excepção, desenvolvem políticas de investimento público com o objectivo de combater, de imediato, esse flagelo social, que constitui o desemprego e, alavancar a recuperação da actividade económica, torna-se difícil entender esta posição num quadro objectivo.
Pensaria eu, que hoje, nas actuais circunstâncias e no quadro do reforço das políticas sociais e de promoção do emprego, seriamos todos “Keynesianos” e fervorosos defensores da necessidade do Estado intervir na economia, mas pelos vistos não.
São ainda mais incompreensíveis as críticas, implícitas, por parte dos subscritores deste documento, ao modelo de desenvolvimento económico seguido por Portugal, seguramente, nos últimos 30 anos, porque foram alguns deles, de facto, em última análise, pelas funções que ocuparam, os responsáveis pela definição ou a indefinição de uma estratégia económica alternativa neste país ao primado dos ciclos de obras públicas.
Parece-me pois, no mínimo, surpreendente, o repisar de argumentos como o agravamento do défice, o aumento da dívida pública e do endividamento externo, a necessidade de estudos adicionais ou a transferência de responsabilidades para as próximas gerações.
A propósito desta última questão, Paul Krugman, Prémio Nobel da Economia em 2008, referiu recentemente, quando alguns o alertavam para o perigo dos investimentos públicos poderem condicionar o futuro das novas gerações: “sem presente não há futuro, por isso tratemos de salvá-lo”.
O projecto do TGV merecia, realmente, ser discutido, em particular a rede de alta velocidade e as estações, mas não a sua suspensão ou o seu adiamento. Pois, enquanto nos entretemos a discutir o sexo dos anjos, o projecto do comboio de alta velocidade, em Portugal, com a sua actual programação, já leva 20 anos de atraso em relação à Espanha e mais de 30 face à França.
No final de 2009, na Europa terão comboio de alta velocidade, pelo menos, os seguintes países: Alemanha, França, Espanha, Noruega, Reino Unido, Itália, Bélgica, Holanda, Áustria e Rússia. Neste quadro, onde é que fica a nossa competitividade face aos restantes países europeus neste meio de transporte que vai marcar, certamente, o Século XXI.
Também não é com Manifestos em sentido contrário, que contribuímos para o esclarecimento dos portugueses, mas, infelizmente, neste ciclo eleitoral pontuado, por eleições europeias, legislativas e autárquicas é quase impossível uma discussão desapaixonada à volta deste ou de qualquer tema.
Surpreendentemente, ou talvez não, é o facto de alguns políticos da nossa República e “outros”, à beira mar plantada, ainda não se terem apercebido que, também no plano político, o paradigma mudou, independentemente, do resultado que possam alcançar nas eleições do próximo dia 27 de Setembro.

In Tribuna Loures, 30Jun/2009

Wednesday, June 24, 2009

Tempos de Incerteza: Liderar pelo Exemplo.

Em períodos conturbados como aquele que vivemos não é difícil acreditar em alguém que nos acene, de forma oportunista, com promessas de facilidades e de atalhos em direcção a uma vida melhor. Acenam-nos com tudo o que desejamos, tocam a música que queremos ouvir e prometem-nos, num simples passe de magia, mudar a nossa vida, como se estivéssemos a viver uma fábula infantil.
Nestas condições, não é, particularmente confortável ou minimamente popular, a posição de quem nos alerta, prudentemente, para as dificuldades que temos de enfrentar e para a necessidade de uma significativa capacidade de resiliência no, difícil e lento, processo de recuperação económica que temos pela frente.
Por isso, agora, mais do que nunca, é importante falar a verdade:
(i) Portugal é uma pequena economia integrada no espaço económico europeu com perto de 500 milhões de consumidores e exposta à concorrência mundial;
(ii) O modelo económico português, que assentou, durante muitos anos, em salários baixos chegou ao fim, a globalização assim o decretou;
(iii) Aderimos à União Económica e Monetária e à moeda única: Não é possível manter, artificialmente, a competitividade da nossa economia, recorrendo à desvalorização cambial e à inflação como o fizemos no passado, designadamente, na recessão económica que vivemos em 1983-85;
(iv) Portugal apresenta uma reduzida competitividade, como o comprovam as fragilidades do saldo da nossa Balança Comercial, situação agravada pela difícil conjuntura internacional. Os nossos sectores transaccionáveis têm uma dimensão inferior à média dos países da União Europeia e uma reduzida especialização, o que condiciona uma retoma económica assente nas exportações;
(v) O programa de reequilíbrio das nossas contas públicas, a modernização e a racionalização da administração pública, que desempenham também um papel fundamental na definição de um novo modelo de desenvolvimento económico estão, obviamente, nas actuais circunstâncias, em standby;
(vi) As prioridades do Governo são, naturalmente, as políticas de apoio social e de combate ao desemprego e nesse sentido lançou, à semelhança dos restantes países afectados pela crise económica, um programa de investimentos públicos.
Nesta conjuntura económica, apesar da retórica fácil, não há nenhum candidato a flautista de Hamlin que nos possa valer, temos mesmo de enfrentar a dura realidade: não há almoços grátis!
Não podemos continuar a esperar que o Estado assegure tudo o que desejamos só porque vivemos em Democracia e pertencemos a um grupo com algum poder reivindicativo. Este tipo de actuação “kamikaze” está a colocar em causa a sobrevivência do Estado Providência, tal como o conhecemos nos últimos trinta e cinco anos.
A Democracia trouxe-nos muitos direitos, mas não podemos esquecer que também temos alguns deveres. Na realidade, a capacidade de intervenção do Estado depende e muito das nossas dinâmicas individuais, como bem referiu John F. Kennedy há quase cinquenta anos, “Não perguntes o que o teu país pode fazer por ti, mas o que podes fazer pelo teu país”.
Nestes tempos de incerteza, instabilidade e complexidade, emergem os líderes, que nos momentos mais difíceis lideram pelo seu exemplo de humildade, inteligência, empenho, coragem e dedicação, que transmitem aos seus colaboradores.
O poder motivacional da liderança pelo exemplo é imenso, sobretudo quando encerra as três principais características deste tipo de liderança: humildade, inteligência emocional e renúncia. Não é, certamente, por acaso, que Barack Obama refere, frequentemente, “os Estados Unidos devem liderar pelo exemplo”.
Portugal tem, felizmente, em diversos quadrantes de actividade, líderes com estas características. Tenho a felicidade de conhecer alguns deles, mas hoje gostaria de deixar uma palavra de respeito e de admiração aos nossos autarcas, muitas vezes menosprezados, mas que foram, indiscutivelmente, nos últimos trinta anos, os grandes responsáveis pela autêntica revolução que este país sofreu, em termos de melhoria dos seus níveis de qualidade de vida e, na generalidade, um exemplo de dedicação à causa pública.

In Tribuna de Loures 15Jun/2009

Wednesday, June 3, 2009

Navegação em Tempos de Incerteza....

Os tempos são de incerteza. O que ontem constituía um dogma, hoje, é, no mínimo, duvidoso.
Embora na sua base esteja um conjunto de debilidades estruturais, a crise financeira internacional nasceu, em grande medida, de uma pandemia de perda de confiança, que assolou os diversos agentes dos mercados financeiros, em particular nos Estados Unidos e que propagou-se, em pouco tempo, à economia mundial.
Nestas circunstâncias - crise financeira e económica - apesar da intervenção das entidades públicas e da definição de políticas mais ou menos keynesianas, perspectiva-se uma recuperação complexa e lenta. O modelo anterior está esgotado e deixou de fazer sentido, mas ainda não se vislumbra, a breve trecho, um novo.
Na União Europeia, a recessão económica e a generalização dos défices orçamentais bem acima do limite dos 3% suspendeu, automaticamente, o Pacto de Estabilidade e Crescimento.O Banco Central Europeu, face aos sinais de deflação, parece ter perdido um dos seus objectivos fundamentais, que na opinião de alguns críticos à sua actuação era o único e constituía uma obsessão: o controlo dos preços.
O mundo vive assim tempos de turbulência e de tempestade. Os tempos não são para navegar à vista, mas sim na incerteza e à bolina.
Os próprios gurus da gestão parecem incomodados, as certezas parecem ter desaparecido, os métodos infalíveis para alcançar o sucesso empresarial parecem hoje anacrónicos e, de alguma forma, patéticos ou mesmo infantis.
De igual modo, os anteriores exemplos de gestores de sucesso, tantas vezes glorificados, parecem ter caído em desgraça, acusados de ganância e de obsessão pelos resultados, enquanto descuravam a sustentabilidade das suas empresas.
Foi isso mesmo que, recentemente, constatei nas Conferências do Estoril e na ExpoManagement 2009, em que, talvez com a excepção de Stiglitz, prémio Nobel da Economia em 2001, a generalidade dos oradores presentes remeteram-se a lugares comuns.
Agora, mais do que nunca, é necessário um sextante, que nos permita calcular o nosso posicionamento e traçar um rumo que nos retire do centro da tempestade. Não esperemos a descoberta de uma solução milagrosa ou a chegada de algum D. Sebastião.
O que resta? O mesmo de sempre, a imensa capacidade do homem em adaptar-se a momentos difíceis.
O que impera neste momentos? Quem triunfa?
A resposta está como sempre em no interior dos nossos corações e dos nossos cérebros.
Quem acredita nas suas capacidades, quem transmite confiança e confia nos outros e quem lidera pelo exemplo.
O que temos feito no nosso país? Perdemos tempo a desgastarmo-nos em questiúnculas que em nada contribuem para resolução dos principais problemas estruturais que afectam a nossa economia.
O exemplo recente de Obama deveria inspirar-nos como nação, transformando as nossas fraquezas em forças e o nosso pessimismo genético, em entusiasmo, optimismo, confiança e esperança num futuro melhor.
Abandonemos pois os transmissores de ruído, concentremo-nos em quem tem algo a transmitir, em quem acredita em si e nos outros e, em quem, nos momentos difíceis, consegue ter presença de espírito e entusiasmo para continuar a acreditar em Portugal e nos portugueses.

In Tribuna de Loures 31Maio/2009

Friday, May 15, 2009

Mudança de Paradigma….

Um dos temas que, recorrentemente, tem sido objecto de discussão é a relação dos portugueses com os partidos e os políticos e a reforma do sistema eleitoral.
Um estudo, recentemente, divulgado levanta mais uma vez a questão do cansaço dos portugueses e a apreciação negativa que fazem dos partidos e dos políticos. De acordo com este estudo, elaborado pela investigadora Conceição Pequito Teixeira, 50% dos portugueses rejeita e hostiliza a necessidade de partidos políticos.
Na realidade, o nosso sistema eleitoral, assente em listas plurinominais e a utilização excessiva da figura de substituição dos deputados, que compõem a Assembleia da República, têm contribuído para o aprofundamento da distância entre eleitos e eleitores, parecendo por vezes que temos vários parlamentos ao longo de uma legislatura.
A Revisão Constitucional, de 1997, abriu a porta à possibilidade de introduzir os círculos uninominais, mas ainda não foi possível um entendimento entre os nossos principais partidos políticos. Assim, continuamos a manter um sistema eleitoral proporcional, mas, profundamente, despersonalizado.
Os deputados dependem, única e exclusivamente, de uma indicação partidária para uma lista de candidatos e não da sua, eventual, ligação aos eleitores do seu círculo eleitoral, o que contribui, necessariamente, para este distanciamento entre eleitos e eleitores.
Outro dos factores que, certamente, mais contribui para os portugueses afastarem-se da política é, tal como a conhecemos, a praxis da vida parlamentar na nossa Assembleia da Republica.
De facto, uma parte, significativa, dos nossos deputados perde-se, frequentemente, em jogos retóricos e em discussões fúteis sem qualquer objectividade ou conteúdo. Esta prática parlamentar terá feito, indiscutivelmente, sentido nos primeiros anos da nossa Democracia, quando discursos inflamados apelavam à defesa dos direitos, liberdades e garantias, mas hoje não.
A Democracia e os valores democráticos estão consolidados e são dados como adquiridos pelas gerações posteriores ao 25 de Abril de 1974. Os problemas que apoquentam o quotidiano dos portugueses são situações muito concretas e estão bem longe, na maior parte do tempo, das questões que ocupam o centro do debate político.
Os principais partidos políticos poderiam, perfeitamente, inspirar-se nos seus autarcas, tantas vezes vilipendiados e que são escrutinados quase, diariamente, pelos seus eleitores, que têm uma noção muito próxima do desempenho dos seus eleitos locais.
As autarquias e os seus autarcas têm sido, nos últimos 30 anos, por muito que custe a alguns opinion makers, os principais elementos de transformação da nossa sociedade, enquanto a Administração Central continua ainda muito amarrada pelas forças corporativas, que travam qualquer tipo de inovação ou de competitividade assente na livre concorrência.
Uma das vantagens dos períodos conturbados como aquele que vivemos, em resultado da grave crise económica internacional, que assola o planeta, é o facto de todas as mudanças necessárias ao desenvolvimento sustentado das economias emergirem das gavetas, onde tinham sido, estrategicamente, deixadas por colocarem em causa o status quo vigente.
O paradigma vigente mudou, tanto no plano económico como no plano político. Nos próximos anos assistiremos, certamente, ao recentrar do debate político em torno de questões como o serviço público e a inevitabilidade da regionalização, como instrumento de concretização do aprofundamento da Democracia e do Desenvolvimento económico.
“A mudança é a lei da vida. E aqueles que apenas olham para o passado ou para o presente vão com certeza perder o futuro.” John F. Kennedy.

in Tribuna Loures, 15 Maio/09

Investimento Público: Simplex...

Nos últimos tempos, poucos temas têm suscitado, entre nós, tanta controvérsia e discussões tão apaixonadas como o investimento público.
Até ao final de 2007, absorvidos pelo combate ao défice, uma panóplia de actores de todos os quadrantes discutia a bondade dos investimentos, nomeadamente do novo aeroporto e do comboio de alta velocidade, vulgo tgv.
As abordagens foram variando, desde incitamento ao despesismo, obras megalómanas, investimentos estruturantes, promoção do emprego, transferência de responsabilidades para as próximas gerações, agravamento do défice, aumento do endividamento externo, necessidade de estudos adicionais, enfim, argumentário bem diverso.
Não pretendo repisar esta discussão, que alimentou a polémica entre os principais partidos políticos da nossa Democracia e que dividiu empresários sobre a pertinência de alguns dos investimentos públicos, que foram, sucessivamente, anunciados por este e pelos últimos Governos, até porque hoje somos todos "Keynesianos" e fervorosos defensores da necessidade do Estado intervir na economia.
Na realidade, em menos de um ano, a crise do sistema financeiro internacional transformou-se na maior recessão económica registada desde os anos trinta e com ela o centro da discussão passou, rapidamente, dos valores do défice para os números do desemprego, lá diz a voz popular, quando a fome entra pela porta, o amor sai pela janela. Surpreendentemente, ou talvez não, é o facto de alguns políticos da nossa República, à beira mar plantada, ainda não se terem apercebido que, também no plano político, o paradigma mudou.
O Governo português começou, à semelhança dos restantes países, pelos menos os que pertencem ao que se designava há uns anos o mundo ocidental, hoje representado pelo G-20, por anunciar um conjunto de medidas anticíclicas, que procuram acelerar a recuperação económica e criar postos de trabalho, atenuando a chaga social que constitui o desemprego.
Entre estas medidas, o Governo lançou um programa de investimentos de combate à crise: requalificação do parque escolar, projectos na área da energia sustentável e modernização da infra-estrutura tecnológica - redes de banda larga de nova geração. Para garantir, na conjuntura actual, a desejada eficácia destas medidas, o Governo aprovou um regime excepcional de contratação pública a vigorar, em 2009-2010, que permite utilizar o procedimento de ajuste directo até ao montante de 5 milhões de euros, no âmbito de empreitadas de obras públicas e, de, até 206 mil euros, na locação de bens móveis ou na aquisição de serviços.
Apesar da importância desta iniciativa governamental, representa apenas uma pequena parte do investimento público que pode ser realizado, rapidamente, em obras de pequena e média dimensão - até um milhão de euros - utilizadoras intensivas de mão-de-obra e que podem ter um impacto, significativo, no processo de retoma da economia e na promoção do emprego.
Porém, neste "combate" à recessão económica há dois factores chave que atrofiam a obtenção de um nível elevado de eficácia, na utilização dos recursos públicos e a optimização da intervenção das entidades públicas, designadamente, das autarquias locais: o novo Código da Contratação Pública e o funcionamento do Tribunal de Contas.
De facto, apesar do esforço desenvolvido, o novo Código da Contratação Pública, publicado há menos de um ano, está ainda longe de ser apreendido, integralmente, pela máquina da administração pública. Os procedimentos mais simples são morosos e complexos, a obrigatoriedade de celebrar contratos de valores, pouco mais que insignificantes, pode levar meses.
Por seu lado, o Tribunal de Contas, órgão fiscalizador, tem uma estrutura anacrónica desadequada ao desempenho da sua missão, os pareceres a concursos públicos arrastam-se por meses infindáveis de espera, interrompidos pontualmente por missivas que param a contagem dos prazos, a pedir esclarecimentos adicionais.
A justiça é hoje, reconhecidamente, um dos maiores factores de perda de competitividade da nossa economia e o Estado ainda absorve 50% dos recursos disponíveis, que são tutelados pelo Tribunal de Contas.
Infelizmente, a menos de dois meses do início de um ciclo eleitoral pontuado, por eleições europeias, legislativas e autárquicas é quase impossível uma discussão desapaixonada à volta deste ou de qualquer tema, sobretudo quando alimentamos um clima de desconfiança e de suspeição sobre as instituições democráticas e sobre os titulares de cargos políticos.
Passados trinta e cinco anos sobre o 25 de Abril mantêm-se ainda, infelizmente, algumas das características corporativas que obstaculizam um ambiente propício ao empreendedorismo na nossa sociedade.
in Jornal A Tribuna de Loures, 30 Abril/09

Thursday, January 29, 2009

Singularidades...

Basta uma carta anónima. Bastam algumas frases para, a coberto do anonimato, lançar a lama sobre alguém. Haverá forma mais vil e cobarde? E a Justiça? Investiga uma denúncia anónima para saber se tem algum fundamento. Muito bem.
Passados quatro anos, a justiça precisa de mais tempo, ainda não conseguiu reunir elementos que lhe permitam avaliar se há fundamento na suspeição lançada na carta anónima. Nesse período, a vida do visado pela carta anónima fica em suspenso, enquanto o segredo de justiça vai sendo violado, cirurgicamente, numa agenda muito própria. Pequenos detalhes vão colorindo a suspeição lançada pela carta anónima. Não há factos que comprovem a carta anónima, não há suspeitos, não há arguidos, mas vai-se alimentando a tradicional bisbilhotice, inveja e mediocridade tão típica dos portugueses. Inicia-se um julgamento nos meios da comunicação social.
Aconteça o que acontecer, arquivada ou não, a carta anónima já venceu. Quem a escreveu permanece anónimo e a justiça em Portugal fica ferida de morte.

Thursday, November 13, 2008

Sinais dos tempos......

Personagens do passado como ex-candidato presidencial Manuel Alegre parecem ter perdido o Norte...
Dedicaram, nas suas palavras, uma vida ao combate pela Liberdade e agora em plena vivência democrática contestam, invariavelmente, a magnitude do voto quando este lhes é desfavorável.
Podemos e devemos contestar as políticas de qualquer Governo quando estas não nos parecem as mais adequadas para Portugal, mas devemos respeitar, igualmente, o mandato conferido por uma larga maioria dos portugueses. Adjectivar esta ou aquela medida do Governo de mais ou menos democrática corre o risco de desacreditar quem faz este tipo de críticas, afinal já vivemos em Democracia há mais de 3 décadas. Este Governo será "avaliado" pelos portugueses em 2009.
Os portugueses têm dado provas de grande maturidade democrática e saberão dar o sinal adequado.
Notas: Não somos todos avaliados, porque deveria ser diferente para alguns?

Sunday, September 21, 2008

"Afectos"

Não há nada a fazer. Somos homens de afectos. Efectuada esta declaração de interesses, não podia deixar de fazer uma menção ao grupo de música portuguesa Deolinda que anda a encantar meio mundo.
Primeiro, pela sua qualidade artística e depois pela linda Ana Bacalhau que depois de encantar nos SMAS canta para Portugal inteiro.
Deixo-vos uma pequena amostra da Ana Bacalhau e dos Deolinda.
www.deolinda.com.pt
http://www.youtube.com/watch?v=jq1j-Dq11WQ

Friday, August 1, 2008

Um pitada de optimismo...

Ontem tive a oportunidade de ver o presente do futuro. Eu e alguns privilegiados tivemos a oportunidade de visitar as instalações da YDREAMS, onde pudemos constatar, in locu, para quem ainda tivesse dúvidas, as grandes capacidades que os portugueses têm, quando bem direccionadas e integradas. Costuma-se dizer que por trás de um grande líder está, naturalmente, uma grande equipa, mas a visão estratégica de António Câmara inspira as nossas almas. A YDREAMS é a prova que Portugal tem solução. Resta-me agradecer a amabilidade, simpatia e profissionalismo com que nos receberam o António, o Edmundo e a Isabel.

Tuesday, July 29, 2008

"Non, ou a vã glória de mandar"

Apesar dos 34 anos que nos separam do Estado Novo, os destinos do nosso país continuam nas mãos das mesmas corporações. Não são forças obscuras, são bem visíveis. Têm poder não pelo que fazem, mas pelo que impedem que se faça. Amordaçam o empreendedorismo e a livre iniciativa. Apelam ao imobilismo e à letargia, bloqueando qualquer iniciativa de mudança. Têm completa aversão ao risco. Confundem-se com o Estado e são fonte de custos acrescidos para a nossa economia. São o poder "cego" do homem do leme, que dirige o “Navio”, tranquilamente, para o abismo, não delegando em quem pode ultrapassar o cabo das tormentas. As estatísticas divulgadas sobre a competitividade do nosso país são esclarecedoras. O Rei Vai Nu.

Thursday, July 17, 2008

"A mudança é a lei da vida. E aqueles que apenas olham para o passado ou para o presente irão com certeza perder o futuro" John F.Kennedy

É consensual, que o modelo de crescimento económico, em que assentou a nossa economia durante as últimas décadas, esgotou-se. Há pelo menos 10 anos, que este facto é conhecido pelos "líderes" de opinião deste país. Sendo assim, porque razão continuamos a comer, avidamente, os últimos pedaços do queijo, que resultaram do anterior paradigma e não damos o passo em frente, aceitando a mudança? Será porque a mudança implica algum risco? Depois de quase três décadas de "prozac" prescrito por um Estado Providência generoso, mas “cego”, estaremos algo obesos e acomodados? E as gerações do Pós-25 de Abril abdicaram do futuro vivendo, sofregamente, o presente? O REI VAI NÚ