Bem-vindos a um fórum que se pretende de discussão livre sobre todos os temas que acharem pertinentes, mas que se pretende direccionado para as questões da liderança.

Tuesday, July 21, 2009

Porquê votar em nós?

Aproximam-se tempos muito importantes e decisivos para os destinos do nosso país e dos nossos municípios.

Antes das férias e da mal-afamada silly season, parece-me oportuno trazer à colação os conteúdos que se irão discutir, na sua forma, mais até do que a forma dos conteúdos.

“A pergunta de um milhão de dólares” (com origens no quiz show da CBS Radio “Take it or Leave it”, 1940/47, mais tarde popularizada na ABC por Regis Philbin, a partir de 1999, com a versão americana do concurso “Who Wants To Be a Millionaire”), ou seja, a pergunta que toda a gente faz, aquela cuja resposta todas as pessoas procuram e que, por isso, se torna tão valiosa, pode resumir-se e, a partir daqui, ser o ponto de partida para (quase) tudo o resto, àquilo que queremos e àquilo que vamos fazer para obtermos aquilo que queremos.

Neste caso, a pergunta não pode deixar de ser, porquê votar em nós? O “nós”, aqui, não está personificado. Ele aplica-se a todos aqueles que somos candidatos às próximas eleições, sejam elas legislativas ou autárquicas. Os exemplos que abaixo são mencionados não passam disso mesmo.

Melhorar o que está bem…mudar o que está mal? O que é que isto quererá dizer de concreto que leve as pessoas a votar em nós? Levar as coisas a sério? Significa que os outros levam a brincar? Falar verdade? Então, mas os outros mentem? Avançar Portugal? Mal seria se quiséssemos recuar, embora tal seja muito infeliz, considerando que divergimos no crescimento económico face à UE, pelo menos, desde 1998 (há economistas que defendem que essa divergência pode ser extrapolada até desde o 25 de Abril). Unir Lisboa? Cumprimos? Lisboa com Sentido (a abertura do site é enjoativa, parece um carrossel)?

Os políticos (e os seus estrategas) têm por hábito assumir, nestas ocasiões, que se deve dizer aquilo que as pessoas querem ouvir. Nada de mais errado! O que é que interessa dizer aquilo que as pessoas querem ouvir se isso não corresponder àquilo que nós conseguimos ou vamos fazer?

Vamos ser sérios…as pessoas só acreditam em nós se já tivermos dado provas disso. E só os factos o podem confirmar. Logo, não devemos prometer aquilo que não podemos cumprir, assim, a primeira pista para a resposta à pergunta é, NÃO FAÇAM PROMESSAS, ESTABELEÇAM COMPROMISSOS. Mas também não pode ser uma coisa do género, “eu assino por baixo”…

Segunda pista, DIZER O QUE SE VAI FAZER. Resulta sempre melhor se já tivermos feito alguma coisa e, nesse caso, devemos ser afirmativos. Sim, Nós Fazemos, parece-me um bom lema.

Terceira pista, TER ESTRATÉGIA E VISÃO. Estratégia não é falar da impunidade dos outros, mas sim falar da nossa responsabilidade. Visão, não é vislumbrar os erros dos outros, mas sim acertar nas nossas escolhas, é estarmos à frente do nosso tempo. Em suma, devemos falar em nós e não nos outros e se não o conseguirmos fazer, é porque não temos nada de construtivo para dizer.

Em quarto lugar, AS PESSOAS….AS PESSOAS…AS PESSOAS. Andamos todos um bocadinho fartos de paixões, mas se tivermos de assumir alguma, só pode mesmo ser as pessoas. Em tudo aquilo que dissermos, fizermos, mostrarmos ou comprometermos, inteligentes – ou não – as pessoas têm de se rever de imediato, ou seja, quando votarem, as pessoas têm de sentir que não estão só a votar em nós, mas também em si próprias. É a única altura em que nos devemos preocupar com os outros.

Finalmente, é preciso sermos resilientes e É PRECISO ACREDITARMOS EM NÓS. Temos de vencer as dificuldades e ultrapassar os obstáculos. Se não acreditarmos naquilo que queremos e que podemos, como fazer os outros acreditar? Obama deu a resposta à sua “pergunta de um milhão de dólares”, Yes, We Can. Temos agora, nós, com base nas pistas que aqui deixo, de encontrar a nossa.

in Jornal de Oeiras, 21 jul./09

Tuesday, July 7, 2009

A Qualidade da Democracia e o futebol

Não são difíceis de identificar os principais problemas da nossa sociedade: a qualidade da democracia, a corrupção, a economia, as finanças, o défice, o PIB, a crise, o pós crise, o desemprego, o investimento, a competitividade, a justiça.

O acentuado declínio da confiança da opinião pública nas instituições políticas e no governo, a crescente alienação dos cidadãos em relação aos partidos políticos e a percepção generalizada que os políticos são potencialmente corruptos, egoístas e irresponsáveis, são comuns à maior parte das democracias e levou a que muitos argumentassem estarmos a viver uma ‘crise da democracia’. A qualidade da democracia é um tema válido e, ao mesmo tempo, controverso. Quem poderá definir o que constitui uma ‘boa’ democracia e em que extensão é possível afiançar uma concepção universal de qualidade democrática? Como é que os esforços para detectar deficiências na democracia podem evitar a elaboração de cenários paternalistas, nos quais as democracias consolidadas se assumem como garantidas e como modelos que podem escapar ao escrutínio? Como é que as avaliações da qualidade da democracia podem ir além de meras análises e podem ser úteis aos reformadores, aos activistas da sociedade civil e a todos os que procuram melhorar a qualidade da democracia?

Numa semana em que, não fosse mais um hilariante “Pine moment”, tudo se reduziria à discussão das eleições no Benfica, foram estas e outras questões que me levaram ao IDN para participar no IV Congresso da SEDES, que tinha como tema “A Qualidade da Democracia e o Pós Crise”.

Tirando o visível know-how na apresentação da Auditoria à Qualidade da Democracia em Portugal: A Perspectiva dos Cidadãos, dirigida por Pedro Magalhães, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa – e de onde se retira, como principal destaque, que a Justiça é um problema transversal ao desenvolvimento económico e social do país – assisti a uma enganadora avaliação de um Pós Crise que não tem nada de Pós e à descrição do meu país bem ao estilo de Smallville. O inquérito que está na base deste estudo foi adaptado de um inquérito-piloto obtido pelo projecto internacional Democracy Barometer for Established Democracies (DBED).

Para quem não sabe, Smallville é a terra onde aterrou o foguetão que transportou o Super-Homem (originariamente Kal-El, Filho das Estrelas) desde Krypton até ao nosso planeta. Para que se perceba, de imediato, a associação, registo que, por alguns anos, foi traduzida, no Brasil, como Pequenopólis…

Como seria preciso um super-herói para “salvar” o nosso país e isso não passa de mera ficção, não tive coragem de me envergonhar pelo retrato de Portugal descrito por Ronald Findlay, Professor de Economia na Columbia University (EUA). A nossa pequenez, nos meios académicos, é visível na primeira era da globalização, presente na época dos Descobrimentos, mas, até aí, o nosso Infante D. Henrique foi adoptado pelos britânicos como “Prince Henry, The Navigator”; e, nos meios populares, assumo eu, no “nosso” CR7. Este, curiosamente, também foi adoptado pelos britânicos, mas, como, entretanto, vem para Espanha, a adopção torna-se menos provável, dado que, para muitos, continuamos a não passar de uma província espanhola.

Nem a propósito, Findlay prossegue com uma enternecedora descrição das navegações…ibéricas! E eu acrescento: Iker Casillas; José Bosingwa, Pepe, Bruno Alves e Sergio Ramos; Xavi Hernández, Andrés Iniesta, Simão Sabrosa e Fernando Torres; Cristiano Ronaldo e David Villa.

É tudo tão mais simples quando se reduzem os problemas da nossa sociedade ao futebol.

in Jornal de Oeiras, 07 jun./09

Friday, July 3, 2009

Cantar de galo

Declaração de interesses: sou um social-democrata renegado.

Passou uma semana das eleições europeias, altura propícia para realizar um balanço e tirar conclusões dos resultados então obtidos.

Fazendo uma avaliação crua dos números, o PSD foi o grande vencedor deste acto eleitoral, pois conseguiu qualquer coisa como mais 5% dos votos que o PS, considerando os valores absolutos.

Mas, já que falamos da crueza dos números, convém, então fazer uma breve reflexão sobre eles, considerando eleições onde vão a votos os partidos, por si só, como é o caso das legislativas e das europeias (excluo as autárquicas, pelas particularidades associadas à personalização das mesmas), naquilo que é cientificamente comparável.

Comecemos pela abstenção. É razoável “cantar de galo” quando 63% dos eleitores nacionais ficaram em casa? É sempre legítimo reclamar a vitória, naturalmente, mas que valor intrínseco (e potenciável considerando as próximas legislativas) pode ter um resultado para o PSD (1.128.993) onde obtém pouco menos de 100 mil votos a mais do que o seu pior resultado de sempre (eleições para o P.E., 1994, 1.046.918)? E onde fica a quase 2 milhões de votos do seu melhor resultado de sempre (eleições para a A.R., 1991, 2.902.351)? Mal seria se o PSD não ganhasse, para além do estafado argumento da crise – e seguindo a tendência global europeia de decréscimo do PSE, em 6 pontos percentuais e a estabilização dos resultados do PPE – se verificarmos ter o PS obtido o seu pior resultado de sempre (946.408), tendo, pela primeira vez, ficado abaixo do limiar do milhão de votos, situação nunca antes vista desde que se realizam eleições democráticas em Portugal. O PS ficou 1,5 milhões de votos abaixo do seu melhor resultado de sempre (eleições para a A.R., 2005, 2.588.312). Até Santana Lopes fez melhor em 2005 (1.653.425), ele que é, para muitos, considerado a bête noire da nossa democracia…

Mais uma vez, também de forma estafada e apelando ao senso comum, quem ganhou as eleições foi a abstenção. E também ganharam aqueles que foram votar e não votaram. Ou seja, os que votaram em branco…165.000 eleitores! Ao contrário do que se costuma dizer, o tal “cartão amarelo” tão falado por estes dias, está aqui. Estas pessoas, que, a votar, estou certo, o fariam massivamente no PS – encurtando até ao tão propalado “empate técnico” o resultado eleitoral – é que representam a voz que segredou a Sócrates change we believe in, bem ao jeito obamaniano tão apreciado pelo secretário-geral socialista.

O que esperar do PSD? Mais, muito mais que um partido que exclui, sectariza, exonera e professa a ética de forma quase cómica; muito mais que uma líder que continua a não liderar; muito mais que uma estrutura que demora mais de 6 meses a escolher um candidato autárquico para um dos municípios mais desenvolvidos do país; muito mais do que uma novel estrela, cuja mais recente ideia para a Europa foi achar escandalosa a verba que o Real Madrid se prepara para pagar ao Manchester United pela transferência de Cristiano Ronaldo.

Este PSD – este e qualquer outro são imprescindíveis à nossa Democracia e ao nosso Sistema Eleitoral – parece continuar a querer trilhar o caminho autista que o deixou no estado em que hoje, ainda, se encontra. Não há desilusões quando não há expectativas e também não ilusões quando não há estratégia.

E quando alguns falam demais, diz-se que “cantam de galo” e é para eles que deixo esta reflexão: um passarinho, moribundo e cheio de frio, reclamava, quando veio uma vaca e defecou sobre ele. Quando se apercebeu que tal o havia aquecido, começou a cantar de alegria e logo veio um gato que o comeu. Moral da história, nem todos aqueles que nos põem na “trampa” são nossos inimigos e nem todos aqueles que nos tiram dela são nossos amigos. Portanto, sempre que estivermos na “trampa” é melhor ficarmos calados.

in Jornal de Oeiras, 23 jun./09

Thursday, July 2, 2009

Quem tem medo do investimento público?

A proximidade de eleições, designadamente, as legislativas, parece ter o condão de fazer agitar, mais do que nunca, a dança das cadeiras, pois só assim se justifica o Manifesto dos 28 contra os investimentos públicos, em particular, o TGV e o novo aeroporto de Lisboa.
Na realidade, depois de uma acesa discussão sobre o investimento público, que durou até ao final de 2007 e que envolveu uma panóplia de actores de todos os quadrantes, quando o que estava em causa, na agenda política, era o combate ao défice orçamental e o controlo das contas públicas, nada faria prever que, na actual conjuntura, esta temática voltasse à ordem do dia.
De facto, tendo em consideração, que o mundo vive a pior recessão económica desde os anos trinta e que todos os Governos, sem excepção, desenvolvem políticas de investimento público com o objectivo de combater, de imediato, esse flagelo social, que constitui o desemprego e, alavancar a recuperação da actividade económica, torna-se difícil entender esta posição num quadro objectivo.
Pensaria eu, que hoje, nas actuais circunstâncias e no quadro do reforço das políticas sociais e de promoção do emprego, seriamos todos “Keynesianos” e fervorosos defensores da necessidade do Estado intervir na economia, mas pelos vistos não.
São ainda mais incompreensíveis as críticas, implícitas, por parte dos subscritores deste documento, ao modelo de desenvolvimento económico seguido por Portugal, seguramente, nos últimos 30 anos, porque foram alguns deles, de facto, em última análise, pelas funções que ocuparam, os responsáveis pela definição ou a indefinição de uma estratégia económica alternativa neste país ao primado dos ciclos de obras públicas.
Parece-me pois, no mínimo, surpreendente, o repisar de argumentos como o agravamento do défice, o aumento da dívida pública e do endividamento externo, a necessidade de estudos adicionais ou a transferência de responsabilidades para as próximas gerações.
A propósito desta última questão, Paul Krugman, Prémio Nobel da Economia em 2008, referiu recentemente, quando alguns o alertavam para o perigo dos investimentos públicos poderem condicionar o futuro das novas gerações: “sem presente não há futuro, por isso tratemos de salvá-lo”.
O projecto do TGV merecia, realmente, ser discutido, em particular a rede de alta velocidade e as estações, mas não a sua suspensão ou o seu adiamento. Pois, enquanto nos entretemos a discutir o sexo dos anjos, o projecto do comboio de alta velocidade, em Portugal, com a sua actual programação, já leva 20 anos de atraso em relação à Espanha e mais de 30 face à França.
No final de 2009, na Europa terão comboio de alta velocidade, pelo menos, os seguintes países: Alemanha, França, Espanha, Noruega, Reino Unido, Itália, Bélgica, Holanda, Áustria e Rússia. Neste quadro, onde é que fica a nossa competitividade face aos restantes países europeus neste meio de transporte que vai marcar, certamente, o Século XXI.
Também não é com Manifestos em sentido contrário, que contribuímos para o esclarecimento dos portugueses, mas, infelizmente, neste ciclo eleitoral pontuado, por eleições europeias, legislativas e autárquicas é quase impossível uma discussão desapaixonada à volta deste ou de qualquer tema.
Surpreendentemente, ou talvez não, é o facto de alguns políticos da nossa República e “outros”, à beira mar plantada, ainda não se terem apercebido que, também no plano político, o paradigma mudou, independentemente, do resultado que possam alcançar nas eleições do próximo dia 27 de Setembro.

In Tribuna Loures, 30Jun/2009