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Thursday, July 2, 2009

Quem tem medo do investimento público?

A proximidade de eleições, designadamente, as legislativas, parece ter o condão de fazer agitar, mais do que nunca, a dança das cadeiras, pois só assim se justifica o Manifesto dos 28 contra os investimentos públicos, em particular, o TGV e o novo aeroporto de Lisboa.
Na realidade, depois de uma acesa discussão sobre o investimento público, que durou até ao final de 2007 e que envolveu uma panóplia de actores de todos os quadrantes, quando o que estava em causa, na agenda política, era o combate ao défice orçamental e o controlo das contas públicas, nada faria prever que, na actual conjuntura, esta temática voltasse à ordem do dia.
De facto, tendo em consideração, que o mundo vive a pior recessão económica desde os anos trinta e que todos os Governos, sem excepção, desenvolvem políticas de investimento público com o objectivo de combater, de imediato, esse flagelo social, que constitui o desemprego e, alavancar a recuperação da actividade económica, torna-se difícil entender esta posição num quadro objectivo.
Pensaria eu, que hoje, nas actuais circunstâncias e no quadro do reforço das políticas sociais e de promoção do emprego, seriamos todos “Keynesianos” e fervorosos defensores da necessidade do Estado intervir na economia, mas pelos vistos não.
São ainda mais incompreensíveis as críticas, implícitas, por parte dos subscritores deste documento, ao modelo de desenvolvimento económico seguido por Portugal, seguramente, nos últimos 30 anos, porque foram alguns deles, de facto, em última análise, pelas funções que ocuparam, os responsáveis pela definição ou a indefinição de uma estratégia económica alternativa neste país ao primado dos ciclos de obras públicas.
Parece-me pois, no mínimo, surpreendente, o repisar de argumentos como o agravamento do défice, o aumento da dívida pública e do endividamento externo, a necessidade de estudos adicionais ou a transferência de responsabilidades para as próximas gerações.
A propósito desta última questão, Paul Krugman, Prémio Nobel da Economia em 2008, referiu recentemente, quando alguns o alertavam para o perigo dos investimentos públicos poderem condicionar o futuro das novas gerações: “sem presente não há futuro, por isso tratemos de salvá-lo”.
O projecto do TGV merecia, realmente, ser discutido, em particular a rede de alta velocidade e as estações, mas não a sua suspensão ou o seu adiamento. Pois, enquanto nos entretemos a discutir o sexo dos anjos, o projecto do comboio de alta velocidade, em Portugal, com a sua actual programação, já leva 20 anos de atraso em relação à Espanha e mais de 30 face à França.
No final de 2009, na Europa terão comboio de alta velocidade, pelo menos, os seguintes países: Alemanha, França, Espanha, Noruega, Reino Unido, Itália, Bélgica, Holanda, Áustria e Rússia. Neste quadro, onde é que fica a nossa competitividade face aos restantes países europeus neste meio de transporte que vai marcar, certamente, o Século XXI.
Também não é com Manifestos em sentido contrário, que contribuímos para o esclarecimento dos portugueses, mas, infelizmente, neste ciclo eleitoral pontuado, por eleições europeias, legislativas e autárquicas é quase impossível uma discussão desapaixonada à volta deste ou de qualquer tema.
Surpreendentemente, ou talvez não, é o facto de alguns políticos da nossa República e “outros”, à beira mar plantada, ainda não se terem apercebido que, também no plano político, o paradigma mudou, independentemente, do resultado que possam alcançar nas eleições do próximo dia 27 de Setembro.

In Tribuna Loures, 30Jun/2009

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