Declaração de interesses: sou um social-democrata renegado.
Passou uma semana das eleições europeias, altura propícia para realizar um balanço e tirar conclusões dos resultados então obtidos.
Fazendo uma avaliação crua dos números, o PSD foi o grande vencedor deste acto eleitoral, pois conseguiu qualquer coisa como mais 5% dos votos que o PS, considerando os valores absolutos.
Mas, já que falamos da crueza dos números, convém, então fazer uma breve reflexão sobre eles, considerando eleições onde vão a votos os partidos, por si só, como é o caso das legislativas e das europeias (excluo as autárquicas, pelas particularidades associadas à personalização das mesmas), naquilo que é cientificamente comparável.
Comecemos pela abstenção. É razoável “cantar de galo” quando 63% dos eleitores nacionais ficaram em casa? É sempre legítimo reclamar a vitória, naturalmente, mas que valor intrínseco (e potenciável considerando as próximas legislativas) pode ter um resultado para o PSD (1.128.993) onde obtém pouco menos de 100 mil votos a mais do que o seu pior resultado de sempre (eleições para o P.E., 1994, 1.046.918)? E onde fica a quase 2 milhões de votos do seu melhor resultado de sempre (eleições para a A.R., 1991, 2.902.351)? Mal seria se o PSD não ganhasse, para além do estafado argumento da crise – e seguindo a tendência global europeia de decréscimo do PSE, em 6 pontos percentuais e a estabilização dos resultados do PPE – se verificarmos ter o PS obtido o seu pior resultado de sempre (946.408), tendo, pela primeira vez, ficado abaixo do limiar do milhão de votos, situação nunca antes vista desde que se realizam eleições democráticas em Portugal. O PS ficou 1,5 milhões de votos abaixo do seu melhor resultado de sempre (eleições para a A.R., 2005, 2.588.312). Até Santana Lopes fez melhor em 2005 (1.653.425), ele que é, para muitos, considerado a bête noire da nossa democracia…
Mais uma vez, também de forma estafada e apelando ao senso comum, quem ganhou as eleições foi a abstenção. E também ganharam aqueles que foram votar e não votaram. Ou seja, os que votaram em branco…165.000 eleitores! Ao contrário do que se costuma dizer, o tal “cartão amarelo” tão falado por estes dias, está aqui. Estas pessoas, que, a votar, estou certo, o fariam massivamente no PS – encurtando até ao tão propalado “empate técnico” o resultado eleitoral – é que representam a voz que segredou a Sócrates change we believe in, bem ao jeito obamaniano tão apreciado pelo secretário-geral socialista.
O que esperar do PSD? Mais, muito mais que um partido que exclui, sectariza, exonera e professa a ética de forma quase cómica; muito mais que uma líder que continua a não liderar; muito mais que uma estrutura que demora mais de 6 meses a escolher um candidato autárquico para um dos municípios mais desenvolvidos do país; muito mais do que uma novel estrela, cuja mais recente ideia para a Europa foi achar escandalosa a verba que o Real Madrid se prepara para pagar ao Manchester United pela transferência de Cristiano Ronaldo.
Este PSD – este e qualquer outro são imprescindíveis à nossa Democracia e ao nosso Sistema Eleitoral – parece continuar a querer trilhar o caminho autista que o deixou no estado em que hoje, ainda, se encontra. Não há desilusões quando não há expectativas e também não ilusões quando não há estratégia.
E quando alguns falam demais, diz-se que “cantam de galo” e é para eles que deixo esta reflexão: um passarinho, moribundo e cheio de frio, reclamava, quando veio uma vaca e defecou sobre ele. Quando se apercebeu que tal o havia aquecido, começou a cantar de alegria e logo veio um gato que o comeu. Moral da história, nem todos aqueles que nos põem na “trampa” são nossos inimigos e nem todos aqueles que nos tiram dela são nossos amigos. Portanto, sempre que estivermos na “trampa” é melhor ficarmos calados.
in Jornal de Oeiras, 23 jun./09
No comments:
Post a Comment