Não são difíceis de identificar os principais problemas da nossa sociedade: a qualidade da democracia, a corrupção, a economia, as finanças, o défice, o PIB, a crise, o pós crise, o desemprego, o investimento, a competitividade, a justiça.
O acentuado declínio da confiança da opinião pública nas instituições políticas e no governo, a crescente alienação dos cidadãos em relação aos partidos políticos e a percepção generalizada que os políticos são potencialmente corruptos, egoístas e irresponsáveis, são comuns à maior parte das democracias e levou a que muitos argumentassem estarmos a viver uma ‘crise da democracia’. A qualidade da democracia é um tema válido e, ao mesmo tempo, controverso. Quem poderá definir o que constitui uma ‘boa’ democracia e em que extensão é possível afiançar uma concepção universal de qualidade democrática? Como é que os esforços para detectar deficiências na democracia podem evitar a elaboração de cenários paternalistas, nos quais as democracias consolidadas se assumem como garantidas e como modelos que podem escapar ao escrutínio? Como é que as avaliações da qualidade da democracia podem ir além de meras análises e podem ser úteis aos reformadores, aos activistas da sociedade civil e a todos os que procuram melhorar a qualidade da democracia?
Numa semana em que, não fosse mais um hilariante “Pine moment”, tudo se reduziria à discussão das eleições no Benfica, foram estas e outras questões que me levaram ao IDN para participar no IV Congresso da SEDES, que tinha como tema “A Qualidade da Democracia e o Pós Crise”.
Tirando o visível know-how na apresentação da Auditoria à Qualidade da Democracia em Portugal: A Perspectiva dos Cidadãos, dirigida por Pedro Magalhães, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa – e de onde se retira, como principal destaque, que a Justiça é um problema transversal ao desenvolvimento económico e social do país – assisti a uma enganadora avaliação de um Pós Crise que não tem nada de Pós e à descrição do meu país bem ao estilo de Smallville. O inquérito que está na base deste estudo foi adaptado de um inquérito-piloto obtido pelo projecto internacional Democracy Barometer for Established Democracies (DBED).
Para quem não sabe, Smallville é a terra onde aterrou o foguetão que transportou o Super-Homem (originariamente Kal-El, Filho das Estrelas) desde Krypton até ao nosso planeta. Para que se perceba, de imediato, a associação, registo que, por alguns anos, foi traduzida, no Brasil, como Pequenopólis…
Como seria preciso um super-herói para “salvar” o nosso país e isso não passa de mera ficção, não tive coragem de me envergonhar pelo retrato de Portugal descrito por Ronald Findlay, Professor de Economia na Columbia University (EUA). A nossa pequenez, nos meios académicos, é visível na primeira era da globalização, presente na época dos Descobrimentos, mas, até aí, o nosso Infante D. Henrique foi adoptado pelos britânicos como “Prince Henry, The Navigator”; e, nos meios populares, assumo eu, no “nosso” CR7. Este, curiosamente, também foi adoptado pelos britânicos, mas, como, entretanto, vem para Espanha, a adopção torna-se menos provável, dado que, para muitos, continuamos a não passar de uma província espanhola.
Nem a propósito, Findlay prossegue com uma enternecedora descrição das navegações…ibéricas! E eu acrescento: Iker Casillas; José Bosingwa, Pepe, Bruno Alves e Sergio Ramos; Xavi Hernández, Andrés Iniesta, Simão Sabrosa e Fernando Torres; Cristiano Ronaldo e David Villa.
É tudo tão mais simples quando se reduzem os problemas da nossa sociedade ao futebol.
in Jornal de Oeiras, 07 jun./09
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