Bem-vindos a um fórum que se pretende de discussão livre sobre todos os temas que acharem pertinentes, mas que se pretende direccionado para as questões da liderança.

Wednesday, June 24, 2009

Tempos de Incerteza: Liderar pelo Exemplo.

Em períodos conturbados como aquele que vivemos não é difícil acreditar em alguém que nos acene, de forma oportunista, com promessas de facilidades e de atalhos em direcção a uma vida melhor. Acenam-nos com tudo o que desejamos, tocam a música que queremos ouvir e prometem-nos, num simples passe de magia, mudar a nossa vida, como se estivéssemos a viver uma fábula infantil.
Nestas condições, não é, particularmente confortável ou minimamente popular, a posição de quem nos alerta, prudentemente, para as dificuldades que temos de enfrentar e para a necessidade de uma significativa capacidade de resiliência no, difícil e lento, processo de recuperação económica que temos pela frente.
Por isso, agora, mais do que nunca, é importante falar a verdade:
(i) Portugal é uma pequena economia integrada no espaço económico europeu com perto de 500 milhões de consumidores e exposta à concorrência mundial;
(ii) O modelo económico português, que assentou, durante muitos anos, em salários baixos chegou ao fim, a globalização assim o decretou;
(iii) Aderimos à União Económica e Monetária e à moeda única: Não é possível manter, artificialmente, a competitividade da nossa economia, recorrendo à desvalorização cambial e à inflação como o fizemos no passado, designadamente, na recessão económica que vivemos em 1983-85;
(iv) Portugal apresenta uma reduzida competitividade, como o comprovam as fragilidades do saldo da nossa Balança Comercial, situação agravada pela difícil conjuntura internacional. Os nossos sectores transaccionáveis têm uma dimensão inferior à média dos países da União Europeia e uma reduzida especialização, o que condiciona uma retoma económica assente nas exportações;
(v) O programa de reequilíbrio das nossas contas públicas, a modernização e a racionalização da administração pública, que desempenham também um papel fundamental na definição de um novo modelo de desenvolvimento económico estão, obviamente, nas actuais circunstâncias, em standby;
(vi) As prioridades do Governo são, naturalmente, as políticas de apoio social e de combate ao desemprego e nesse sentido lançou, à semelhança dos restantes países afectados pela crise económica, um programa de investimentos públicos.
Nesta conjuntura económica, apesar da retórica fácil, não há nenhum candidato a flautista de Hamlin que nos possa valer, temos mesmo de enfrentar a dura realidade: não há almoços grátis!
Não podemos continuar a esperar que o Estado assegure tudo o que desejamos só porque vivemos em Democracia e pertencemos a um grupo com algum poder reivindicativo. Este tipo de actuação “kamikaze” está a colocar em causa a sobrevivência do Estado Providência, tal como o conhecemos nos últimos trinta e cinco anos.
A Democracia trouxe-nos muitos direitos, mas não podemos esquecer que também temos alguns deveres. Na realidade, a capacidade de intervenção do Estado depende e muito das nossas dinâmicas individuais, como bem referiu John F. Kennedy há quase cinquenta anos, “Não perguntes o que o teu país pode fazer por ti, mas o que podes fazer pelo teu país”.
Nestes tempos de incerteza, instabilidade e complexidade, emergem os líderes, que nos momentos mais difíceis lideram pelo seu exemplo de humildade, inteligência, empenho, coragem e dedicação, que transmitem aos seus colaboradores.
O poder motivacional da liderança pelo exemplo é imenso, sobretudo quando encerra as três principais características deste tipo de liderança: humildade, inteligência emocional e renúncia. Não é, certamente, por acaso, que Barack Obama refere, frequentemente, “os Estados Unidos devem liderar pelo exemplo”.
Portugal tem, felizmente, em diversos quadrantes de actividade, líderes com estas características. Tenho a felicidade de conhecer alguns deles, mas hoje gostaria de deixar uma palavra de respeito e de admiração aos nossos autarcas, muitas vezes menosprezados, mas que foram, indiscutivelmente, nos últimos trinta anos, os grandes responsáveis pela autêntica revolução que este país sofreu, em termos de melhoria dos seus níveis de qualidade de vida e, na generalidade, um exemplo de dedicação à causa pública.

In Tribuna de Loures 15Jun/2009

Wednesday, June 3, 2009

Navegação em Tempos de Incerteza....

Os tempos são de incerteza. O que ontem constituía um dogma, hoje, é, no mínimo, duvidoso.
Embora na sua base esteja um conjunto de debilidades estruturais, a crise financeira internacional nasceu, em grande medida, de uma pandemia de perda de confiança, que assolou os diversos agentes dos mercados financeiros, em particular nos Estados Unidos e que propagou-se, em pouco tempo, à economia mundial.
Nestas circunstâncias - crise financeira e económica - apesar da intervenção das entidades públicas e da definição de políticas mais ou menos keynesianas, perspectiva-se uma recuperação complexa e lenta. O modelo anterior está esgotado e deixou de fazer sentido, mas ainda não se vislumbra, a breve trecho, um novo.
Na União Europeia, a recessão económica e a generalização dos défices orçamentais bem acima do limite dos 3% suspendeu, automaticamente, o Pacto de Estabilidade e Crescimento.O Banco Central Europeu, face aos sinais de deflação, parece ter perdido um dos seus objectivos fundamentais, que na opinião de alguns críticos à sua actuação era o único e constituía uma obsessão: o controlo dos preços.
O mundo vive assim tempos de turbulência e de tempestade. Os tempos não são para navegar à vista, mas sim na incerteza e à bolina.
Os próprios gurus da gestão parecem incomodados, as certezas parecem ter desaparecido, os métodos infalíveis para alcançar o sucesso empresarial parecem hoje anacrónicos e, de alguma forma, patéticos ou mesmo infantis.
De igual modo, os anteriores exemplos de gestores de sucesso, tantas vezes glorificados, parecem ter caído em desgraça, acusados de ganância e de obsessão pelos resultados, enquanto descuravam a sustentabilidade das suas empresas.
Foi isso mesmo que, recentemente, constatei nas Conferências do Estoril e na ExpoManagement 2009, em que, talvez com a excepção de Stiglitz, prémio Nobel da Economia em 2001, a generalidade dos oradores presentes remeteram-se a lugares comuns.
Agora, mais do que nunca, é necessário um sextante, que nos permita calcular o nosso posicionamento e traçar um rumo que nos retire do centro da tempestade. Não esperemos a descoberta de uma solução milagrosa ou a chegada de algum D. Sebastião.
O que resta? O mesmo de sempre, a imensa capacidade do homem em adaptar-se a momentos difíceis.
O que impera neste momentos? Quem triunfa?
A resposta está como sempre em no interior dos nossos corações e dos nossos cérebros.
Quem acredita nas suas capacidades, quem transmite confiança e confia nos outros e quem lidera pelo exemplo.
O que temos feito no nosso país? Perdemos tempo a desgastarmo-nos em questiúnculas que em nada contribuem para resolução dos principais problemas estruturais que afectam a nossa economia.
O exemplo recente de Obama deveria inspirar-nos como nação, transformando as nossas fraquezas em forças e o nosso pessimismo genético, em entusiasmo, optimismo, confiança e esperança num futuro melhor.
Abandonemos pois os transmissores de ruído, concentremo-nos em quem tem algo a transmitir, em quem acredita em si e nos outros e, em quem, nos momentos difíceis, consegue ter presença de espírito e entusiasmo para continuar a acreditar em Portugal e nos portugueses.

In Tribuna de Loures 31Maio/2009

Monday, June 1, 2009

Ficar para a História

A expressão “ficar para a História” é usualmente utilizada em sentido pejorativo e serve para desvalorizar certos acontecimentos, históricos ou não, mas que não deixam de fazer parte da história das pessoas ou das instituições.

Oeiras vive um momento histórico ao comemorar 250 anos desde que foi elevada a Vila, por Carta Régia entregue por D. José I ao seu ministro e 1º Conde de Oeiras, Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal, no dia 7 de Junho de 1759. O Concelho acaba por ser constituído em Carta Régia do dia 13 de Julho de 1759.

Muito gostariam que tal acontecimento “ficasse para a História” mas, em boa altura, a Câmara Municipal entendeu desenvolver esforços para destacar tamanha efeméride.

Pode sempre alegar-se que não compete às autarquias locais o desenvolvimento de actividades populistas e de fogo-fátuo, que pouco contribuem para a sustentação da qualidade de vida dos seus cidadãos. De acordo! Mas não podemos esquecer que já compete às autarquias locais a promoção de actividades que honrem as suas gentes e promovam – justa e reconhecidamente – os valorosos feitos daqueles que elevaram bem alto o nome da terra que ajudaram a fundar. É ao revermo-nos na humildade e no empenho dos que nos antecederam, que melhor poderemos preparar as gerações vindouras para os constantes desafios que encerram o mundo globalizado em que vivemos. E é com a utilização – racional e inteligente – dos meios que se encontram ao nosso dispor, que melhor poderemos reproduzir e reviver 250 anos de uma História inolvidável, que nos orgulha e que, estou certo, contribuirá para a felicidade e para a estampagem na cara dos nossos concidadãos, do sorriso que uma “crise” persistente parece querer apagar.

Ser Oeiras – porque Oeiras Somos Todos – não é racionalmente explicável por alguém que viveu (ainda) a maior parte da sua vida em Cascais, a terra que me viu nascer. Adoptei Oeiras (ou vice-versa, para o caso pouco interessa) e não é por aqui desenvolver a minha actividade profissional vai para 16 anos, nem por aqui terem nascido os meus filhos – passe a inapagável importância que isso tem – que Sou Oeiras. Sou Oeiras, em primeiro lugar, porque quero e, acima de tudo, porque tal se insere naquele capítulo das emoções tão inexplicáveis quanto as paixões. Oeiras é uma paixão? Sem dúvida! Se Camões escrevesse hoje, seria uma das suas Ninfas. Se Florbela Espanca fosse viva, Amaria Perdidamente esta terra. Se Pessoa a descrevesse, seria o seu Mar…

Tudo acontece em Oeiras. Ainda este fim-de-semana a circulação pelas imediações do Centro Histórico era uma festa. Desde a abertura da Feira, no Jardim Municipal, passando pela Grande Festa da Criança, nos jardins do Palácio dos Marqueses, até às actividades inseridas nas comemorações do 10º aniversário do “Mexa-se Mais”, pareceria que o país se tinha mudado para cá. E parte dele até o fez, pois o Vale do Jamor assistiu à final da Taça de Portugal em futebol, o que trouxe até nós boas “gentes” do norte de Portugal. A este propósito, uma palavra de carinho para três bons amigos, que, nem por isso, deixam de o ser. Cristina, Armando e Paulo…bem hajam!

Ele há coincidências felizes – ou não, como diz Margarida Rebelo Pinto – quando vejo à frente dos destinos do Município, neste momento tão único e irrepetível, o Presidente Isaltino Morais. O mínimo que poderei dizer é que Oeiras merece Isaltino e Isaltino merece Oeiras. Só alguém com visão estratégica e uma gestão com – e que é – obra, estaria à altura de parabenizar esta terra. Alguém fez de Oeiras grande há 250 anos atrás. 250 anos depois, alguém faz com que ela permaneça assim.

De facto, há coisas que “ficam para a História”, mas Oeiras não…Oeiras já está na História!

in Jornal de Oeiras, 02 jun./09