Em períodos conturbados como aquele que vivemos não é difícil acreditar em alguém que nos acene, de forma oportunista, com promessas de facilidades e de atalhos em direcção a uma vida melhor. Acenam-nos com tudo o que desejamos, tocam a música que queremos ouvir e prometem-nos, num simples passe de magia, mudar a nossa vida, como se estivéssemos a viver uma fábula infantil.
Nestas condições, não é, particularmente confortável ou minimamente popular, a posição de quem nos alerta, prudentemente, para as dificuldades que temos de enfrentar e para a necessidade de uma significativa capacidade de resiliência no, difícil e lento, processo de recuperação económica que temos pela frente.
Por isso, agora, mais do que nunca, é importante falar a verdade:
(i) Portugal é uma pequena economia integrada no espaço económico europeu com perto de 500 milhões de consumidores e exposta à concorrência mundial;
(ii) O modelo económico português, que assentou, durante muitos anos, em salários baixos chegou ao fim, a globalização assim o decretou;
(iii) Aderimos à União Económica e Monetária e à moeda única: Não é possível manter, artificialmente, a competitividade da nossa economia, recorrendo à desvalorização cambial e à inflação como o fizemos no passado, designadamente, na recessão económica que vivemos em 1983-85;
(iv) Portugal apresenta uma reduzida competitividade, como o comprovam as fragilidades do saldo da nossa Balança Comercial, situação agravada pela difícil conjuntura internacional. Os nossos sectores transaccionáveis têm uma dimensão inferior à média dos países da União Europeia e uma reduzida especialização, o que condiciona uma retoma económica assente nas exportações;
(v) O programa de reequilíbrio das nossas contas públicas, a modernização e a racionalização da administração pública, que desempenham também um papel fundamental na definição de um novo modelo de desenvolvimento económico estão, obviamente, nas actuais circunstâncias, em standby;
(vi) As prioridades do Governo são, naturalmente, as políticas de apoio social e de combate ao desemprego e nesse sentido lançou, à semelhança dos restantes países afectados pela crise económica, um programa de investimentos públicos.
Nesta conjuntura económica, apesar da retórica fácil, não há nenhum candidato a flautista de Hamlin que nos possa valer, temos mesmo de enfrentar a dura realidade: não há almoços grátis!
Não podemos continuar a esperar que o Estado assegure tudo o que desejamos só porque vivemos em Democracia e pertencemos a um grupo com algum poder reivindicativo. Este tipo de actuação “kamikaze” está a colocar em causa a sobrevivência do Estado Providência, tal como o conhecemos nos últimos trinta e cinco anos.
A Democracia trouxe-nos muitos direitos, mas não podemos esquecer que também temos alguns deveres. Na realidade, a capacidade de intervenção do Estado depende e muito das nossas dinâmicas individuais, como bem referiu John F. Kennedy há quase cinquenta anos, “Não perguntes o que o teu país pode fazer por ti, mas o que podes fazer pelo teu país”.
Nestes tempos de incerteza, instabilidade e complexidade, emergem os líderes, que nos momentos mais difíceis lideram pelo seu exemplo de humildade, inteligência, empenho, coragem e dedicação, que transmitem aos seus colaboradores.
O poder motivacional da liderança pelo exemplo é imenso, sobretudo quando encerra as três principais características deste tipo de liderança: humildade, inteligência emocional e renúncia. Não é, certamente, por acaso, que Barack Obama refere, frequentemente, “os Estados Unidos devem liderar pelo exemplo”.
Portugal tem, felizmente, em diversos quadrantes de actividade, líderes com estas características. Tenho a felicidade de conhecer alguns deles, mas hoje gostaria de deixar uma palavra de respeito e de admiração aos nossos autarcas, muitas vezes menosprezados, mas que foram, indiscutivelmente, nos últimos trinta anos, os grandes responsáveis pela autêntica revolução que este país sofreu, em termos de melhoria dos seus níveis de qualidade de vida e, na generalidade, um exemplo de dedicação à causa pública.
In Tribuna de Loures 15Jun/2009