O nosso país e o mundo estão cheios de pessoas conhecidas. Mas importa verificar se esse grau de notoriedade, aos seus mais diversos níveis, se associa a performances de elevado desempenho, ou se estamos perante engodos irracionais compostos por faits-divers que inebriam a sociedade.
Colocar a notoriedade ao serviço dos outros, parece-me ser um bom princípio para desmistificar o colorido social normalmente envolvido nestas lides. Tive oportunidade de conviver com alguns (bons) exemplos nos últimos dias. Desde Luciana Abreu, que pretende erguer um projecto em Paço de Arcos para permitir aos seus fãs, através da música, a concretização dos seus sonhos; passando por Ana Free, que, associada ao Clube da Água dos SMAS, vai pôr os jovens de Oeiras e da Amadora a seguirem o seu sonho, gravando uma música sobre “A Água”; até Frederico Gil, que vai levar as pessoas a mexerem-se mais em Oeiras.
Grassam muitos exemplos – e recentes – do que significa associar a notoriedade a elevados níveis de desempenho. Não resisto a identificar José Mourinho, que conquistou o seu 14º título com a vitória no Calcio, ao serviço do Inter de Milão, na sua primeira passagem pelo clube. Aí também brilhou Luís Figo, que anunciou o final de uma carreira notável e cuja notoriedade, quem sabe, poderá ser colocada ao serviço da Federação Portuguesa de Futebol. Também Cristiano Ronaldo contribuiu, de forma decisiva, para o 18º título do Manchester United, em Inglaterra.
Por outro lado, dispensa-se a notoriedade de um Bernard Maddof (autor da maior fraude financeira de sempre), cuja mulher, Ruth, já nem sequer pode frequentar o seu cabeleireiro (por sinal, o mais famoso e mais caro de Manhattan). E também se dispensa a notoriedade de alguns banqueiros que, não obstante terem levado as suas instituições à falência, mantêm todos os luxos, como os almoços no Porto de Stª Maria e no Eleven, as viagens para fazer esqui nos Alpes, os carros topos de gama, os fatos Armani e as gravatas Lanvin (vide o caso João Rendeiro). Estou certo que a notoriedade, neste caso, não é nada equiparável a elevados desempenhos e muito menos está ao serviço dos outros. Que o digam as centenas de depositantes que recentemente fizeram uma vigília à porta da sede do BPP, no Porto.
Mas não é preciso ser-se tão global e mediático para se ser notado. Helen Zille, principal rosto da oposição sul-africana, tornou-se popular quando, em 2006, venceu as eleições para mayor da Cidade do Cabo, tendo sido eleita, o ano passado, a Melhor Presidente de Câmara do Mundo, fazendo jus ao lema da Agenda 21 Local, “Pensar Global, Agir Local”.
O exercício do poder e da autoridade local é, assim, o sector onde melhor se convive com a dicotomia notoriedade x desempenho. O que interessa às pessoas a notoriedade se a ela não se associarem acções conducentes à melhoria da sua qualidade de vida e das condições de habitabilidade e de ambiente urbano da sua zona de residência e/ou de trabalho?
Importa, portanto, estar disponível, saber falar e saber ouvir e, sobretudo, corresponder às expectativas daqueles que, mesmo que não nos conheçam, vêem em nós alguém capaz de resolver os seus problemas. Em última instância, é isto que preocupa as pessoas, é isto que move as pessoas, é isto que leva as pessoas a votar. Por melhores que sejam as tácticas e por mais inovadoras que sejam as tecnologias, elas não são suficientes para ganhar. Para ganhar, os políticos, os autarcas, os candidatos, têm de estar onde estão as pessoas.
Eu revejo-me em Mahatma Gandhi, “existem dois tipos de pessoas, aquelas que trabalham e aquelas que ficam com os louros. Tenta manter-te no primeiro grupo…tem menos concorrência!”
in Jornal de Oeiras, 19 mai./09