Bem-vindos a um fórum que se pretende de discussão livre sobre todos os temas que acharem pertinentes, mas que se pretende direccionado para as questões da liderança.

Monday, September 7, 2009

O Partido daqueles que não nos viram as costas

Tenho andando por aí. Tenho andado pela rua a tomar o pulso às pessoas e ao ambiente. As “coisas” não estão fáceis. Ou porque está frio, ou porque está calor, ou porque estamos em crise, ou porque Portugal não ganhou à Dinamarca, ou porque os debates a propósito das eleições legislativas são mais do mesmo e não esclarecem ninguém, ou porque alguns se acham donos da Verdade, ou porque outros é que levam isto a Sério, ou porque há festas e as pessoas não conseguem dormir por causa do barulho, ou porque não há festas e as pessoas não se conseguem divertir…o que é um facto, é que os portugueses são uns eternos insatisfeitos.

Felizmente que nem tudo é mau, a começar pelo sucesso mais uma vez verificado pela realização das Festas em Honra do Senhor Jesus dos Navegantes, em Paço de Arcos, que terminaram este fim-de-semana, com o habitual e majestoso fogo-de-artifício, acompanhado, ao rubro, por milhares de pessoas, que enchiam o jardim e a Marginal, desde a curva do Mónaco até à Escola Náutica Infante D. Henrique, sem contar com aquelas que, um pouco por toda a zona ribeirinha da Vila e das varandas das suas casas, tiveram a oportunidade de assistir a este espectáculo. Durante cerca de 20 minutos, não houve lugar a lamúrias e ninguém nos virou as costas.

Depois há, ainda, pequenas “pérolas” que se afirmam como grandes surpresas. Eu que, por formação académica e profissional, vivo rodeado de ideologias (no sentido teórico e no sentido prático), recebo de alguém completamente insuspeito – um médico – a melhor definição de um movimento de cidadãos independentes…o Partido daqueles que não nos viram as costas! Numa palavra, brilhante! Como é público (nestas linhas e nuns outdoors que por aí andam), eu integro um movimento independente e nunca me tinha ocorrido tal coisa.

Continuo a considerar, qualquer que seja a situação, que a melhor receita para o sucesso é o trabalho. Como se ousa dizer noutras paragens, “no pain, no gain” o que, por cá, pode ser sinónimo de “dar o corpo ao manifesto”. Não virar as costas aos problemas e às pessoas que sempre nos deram a mão e nos indicaram o caminho, não só é elementar, como justo. São essas mesmas pessoas que, com o trabalho e com “obra feita”, nos indicaram o caminho do progresso e expressaram o sentir de uma comunidade quanto ao seu futuro.

Mas, como também não devemos contribuir para aumentar o índice de insatisfação da generalidade dos portugueses, se alguém nos virar as costas, não devemos ficar tristes, isso significa, apenas, que essas pessoas não conseguem aguentar a firmeza do nosso olhar.

Por sua vez, ao som de um ritmo alucinante, mas não ensurdecedor, as costas mostraram-se à intolerância pela liberdade de expressão e diversão de milhares de jovens sedentos de dar corpo e voz ao sentir de uma comunidade quanto ao seu presente. A “Paço de Arcos Night Sessions” foi uma pedrada no charco da arrogância e a conquista da determinação de quem procura fazer a diferença. Se o apelo resultar, nada mais será como dantes.

Também nós temos de ter em atenção para onde viramos as nossas costas. Não se podem defraudar expectativas, não nos podemos render à arrogância da sapiência e à prepotência da capacidade de realização. O que lá vai, lá vai, já está nas nossas costas. O “porco”, quando nasce, também é para todos; o malho e o cinzel devem ser utilizados para trabalhar e não para censurar.

A vida, essa, virou as costas a um amigo…Bruno, que Deus te dê, no Céu, a paz e o sossego que te faltaram na Terra. Até sempre!

Jornal de Oeiras, 08 set./09

Wednesday, September 2, 2009

Silly Season ou talvez não?

O ponto alto da silly season costuma ser o mês de Agosto, período em que, usualmente, não se passa nada de importante e podemos actualizar, tranquilamente, as nossas leituras estendidos numa toalha à beira mar.
No mês de Agosto, os colégios fecham e somos, naturalmente, forçados a meter férias. Aqueles que podem vão de malas e bagagens para o Algarve ou para as nossas aldeias, para quem ainda tem essas referências mais rurais, onde os emigrantes, que regressam a Portugal, ajudam a animar as festas populares.
Mas este ano, estamos a viver um Verão atípico, não temos jogos olímpicos, campeonato do mundo de futebol ou semelhante. Além disso, no nosso campeonato de futebol, agora designado superliga, não há discussões jurídicas sobre quem sobe ou desce e não há “Verão quente” com transferências de jogadores do Benfica para o Sporting ou para o FC Porto.
Mesmo os nossos candidatos a vip’s ou socialites andam muito sossegados, apenas a Diana Chaves dá um ar da sua graça, mas muito pueril. Reconheço que as televisões nacionais têm feito um esforço para recuperar a silly season, quer alimentando o folhetim da morte de Michael Jackson, quer dando tempo de antena a personagens como o Prof. Medina Carreira que, hoje em dia, é mais um entertainer especializado numa antiga tradição portuguesa: dizer mal de tudo.
Na realidade, este Verão, os portugueses, em pleno Agosto, nem parecem estar de férias, a crise económica e os políticos insistem em não nos dar descanso, dominando a actualidade.
É verdade que estamos a pouco mais de um mês de um ciclo eleitoral intenso, legislativas no próximo dia 27 de Setembro e autárquicas no dia 11 de Outubro, mas podíamos ter alguma da renovação de personagens e de conteúdos, tantas vezes anunciada.
A Presidente do PSD, na sua já reconhecida fama e proveito de incapacidade para comunicar, em que só por coincidência o que fala corresponde ao que pensa e faz - será uma política de verdade ou será uma nova forma de não dizer a verdade – anunciou a lista de candidatos à Assembleia da Republica e comunicou, que ainda é cedo para apresentar o seu programa eleitoral.
Na lista de candidatos a deputados apresentada, a coerência imperou, quem não é por mim fica de fora. A única novidade foi a introdução da figura dos bons e dos maus arguidos em processos judiciais. Os bons são aqueles em quem a Dra. Ferreira Leite tem confiança, ou seja, fazem parte dos seus apoiantes, os outros, por exclusão de partes, não podem ser, obviamente, candidatos a qualquer lugar.
O facto de o PSD não ter apresentado o seu programa eleitoral também não constituiu nenhuma surpresa, porque o pouco que foi ventilado pelo seu gabinete de estudos foi o suficiente para aterrorizar qualquer português.
Mas nem tudo são más notícias, a economia portuguesa apresentou, no segundo semestre de 2009, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística, um crescimento real de 0,3 pontos percentuais, confirmando os primeiros sinais de recuperação da grave crise económica que assolou o mundo e o acerto da estratégia definida pelo Governo Português.
Esta evolução positiva, conjugada com os sinais de reanimação das principais economias da União Europeia, permite algum optimismo sobre a evolução da economia portuguesa e perspectivar alguma redução do desemprego no início de 2010.
Enfim, uma maçada para alguns pessimistas militantes, mas é, seguramente, uma óptima notícia para quem acredita em Portugal e nos portugueses.
In Tribuna de Loures 15 Agosto/2009

"Homens Bons"

O Governo decidiu marcar as eleições autárquicas para o próximo dia 11 de Outubro.
As eleições autárquicas são o momento em que as populações elegem os seus representantes nas Câmaras Municipais, nas Assembleias Municipais e nas Assembleias de Freguesia e em que celebramos o poder democrático na sua forma mais pura, pelo menos, em termos de proximidade entre eleitos e eleitores.
O Sr. Presidente da República entendeu marcar as eleições legislativas para próximo dia 27 de Setembro, mas as pressões para que estas se realizassem na mesma data das eleições autárquicas assumiram, infelizmente, uma dimensão intolerável.
Na realidade, as pressões feitas em defesa da tese da simultaneidade das eleições autárquicas com as legislativas assentaram, fundamentalmente, em falsos argumentos economicistas e constituíram mais uma tentativa de menosprezar o papel e a importância dos municípios. A defesa desta tese por quem já tinha defendido a suspensão da Democracia por seis meses não nos surpreendeu, mas o silêncio comprometedor, no interior do PPD, sim.
Para que não subsistam dúvidas, aqui fica registada a minha declaração de interesses: Defendo, incondicionalmente, a aplicação do princípio da subsidiariedade, designadamente, na administração pública e as virtualidades da criação de um nível intermédio de gestão do território português, tendo em vista um desenvolvimento económico sustentável, aliás como está previsto na Constituição da República de 1976.
De acordo com a Constituição, "as autarquias locais são pessoas colectivas territoriais dotadas de órgãos representativos, que visam a prossecução de interesses próprios das populações respectivas" (art. 235º CRP) e as categorias de autarquias previstas no continente são as freguesias, os municípios e as regiões administrativas (art. 236º CRP).
A não concretização da regionalização constitui, na actualidade, um dos maiores condicionalismos à necessária democratização e racionalização da administração central e à própria mudança de modelo de crescimento económico.
Na União Europeia, a existência de regiões com órgãos eleitos em quase todos os países não afecta a sua coesão, porque afectaria a nossa coesão nacional?
Enquanto se marca passo na regionalização, vão-se aprofundando as disparidades no território. O fosso entre as regiões marcadas por uma ruralidade periférica e as regiões mais urbanizadas acentua-se cada vez mais.
Nos últimos trinta anos, as autarquias e os autarcas têm sido, inquestionavelmente, os principais responsáveis pela verdadeira “revolução” que este país sofreu ao nível da qualidade de vida das suas populações.As autarquias têm sido, igualmente, elementos de modernidade, de mudança e de implementação de processos de melhoria contínua, enquanto a Administração Central permanece ainda muito amarrada pelas forças corporativas, que travam qualquer tipo de inovação ou de competitividade assente na livre concorrência.
O recente fracasso, que constituiu a tentativa de alteração da Lei das Autarquias Locais, é, lamentavelmente, um bom exemplo da forma como ainda actuam algumas dessas forças corporativas.
Os autarcas, tantas vezes, vilipendiados ou menosprezados, são os verdadeiros herdeiros do legado, que os homens bons do municipalismo deixaram neste país e, constitui, nos dias de hoje, uma verdadeira afronta, completamente anacrónica, a manutenção da figura dos Governadores Civis.
São também os autarcas, que mais estão próximos dos problemas quotidianos dos portugueses e, que muitas vezes, estão bem longe, na maior parte do tempo, das questões que ocupam o centro do debate político.
O país deve muito a esta geração de autarcas, que dedicaram a sua vida à defesa da causa pública e dos valores da Democracia e, alguns deles, são mesmo uma referência em termos de liderança, quer através do seu exemplo, quer através da sua inteligência emocional.
Poderia, felizmente, dar vários exemplos de autarcas com estas características e dos mais diversos quadrantes partidários, mas um deles é, seguramente, o Presidente da Câmara Municipal da Amadora, Joaquim Raposo, que se impõe de forma carismática, liderando pela sua coragem e dedicação, que transmite aos seus colaboradores, na defesa do serviço público.
Embora muitas vezes em sentido contrário à força da onda, há ainda muitas razões para continuar a acreditar em Portugal e nos portugueses.
In Tribuna de Loures 15 Julho/2009

Irreal Social

Despedi-me, num até já, em inicio da popularizada silly season, regresso ainda a mesma não terminou. O que passou entretanto? Muitas coisas. Algumas que merecem comentários, outras que merecem reparos, outras que se escusam ao meu pronunciamento e a ERC (Entidade Reguladora da Comunicação Social), graças à qual eu continuo a escrever nesta coluna.

Como alguém, Pacheco Pereira (PP), dizia a propósito desta época, já em 2007, em crónica do Público, “Agosto é o mês de silly season oficial para onze meses de silly season oficiosa”. Não concordo, nem deixo de concordar, apenas noto que esse alguém repetiu a mesma lengalenga, em recente crónica na Sábado. Parece desiludido com a política, mas nem isso o impediu de ser o cabeça da lista de candidatos a deputados pelo círculo eleitoral de Santarém. Talvez assim melhor se compreendam os desabafos de Moita Flores, Presidente da Câmara Municipal de Santarém e candidato a novo mandato (independente com o apoio do PSD).

Vamos à ERC. Já estou como Miguel Sousa Tavares. Detesto proibições. Escrevi até hoje dois artigos suspeitos de terem conotações políticas, mas sempre com base em pressupostos de natureza normativa e/ou cientifica. Mas não nego, nem nunca neguei a minha condição de social-democrata renegado, independente e no exercício das funções de Presidente da Junta de Freguesia de Paço de Arcos. É na qualidade de candidato a mais um mandato que ponderei suspender esta minha colaboração com o Jornal de Oeiras e é nessa qualidade que me incluo na recomendação da ERC que determina que os media devem suspender as colaborações e participações de comentadores, colunistas e analistas que sejam candidatos às legislativas e às autárquicas dos próximos meses de Setembro e Outubro deste ano (isto é que era uma chatice para o dr. PP).

Aliás, por princípios de coerência era sempre o que faria, tal foi o meu espanto e os meus comentários (públicos) quando me deparei com o candidato Marcos Perestrello a defender as razões da sua candidatura à Câmara Municipal de Oeiras na coluna que semanalmente escreve no Expresso. Jamais me passaria pela cabeça utilizar esta coluna para fazer o mesmo em relação à candidatura que protagonizo à Junta de Freguesia de Paço de Arcos e, daí, ter ponderado suspender os meus escritos. Só que eu consigo ser isento. Eu consigo ser imparcial. Para além do mais, competiria à direcção deste jornal tomar essa decisão, o que não foi o caso. Não basta dizermos que somos sérios, também temos de parecer. Vai daí, culpem a ERC de eu continuar por aqui a escrever.

Na eloquência da minha imparcialidade – e hospitalidade – convido-vos a todos, sem excepção, a juntarem-se a mim e a milhares de paço-arcoenses e visitantes, para mais uma edição das festas em honra do Senhor Jesus dos Navegantes. Começam no dia 28 de Agosto e vão até ao dia 6 de Setembro. Destaque especial para a Procissão e Bênção do Mar e para as actuações dos Corvos, Nilton, Gilyto, Sónia Costa e Marco Quelhas, para além de um conjunto revelação, os Katharsis, vencedores do 5º concurso de Bandas de Garagem de Setúbal.

Retomando uma tradição e aproveitando a belíssima intervenção efectuada pela Câmara Municipal, iremos prolongar as festas para lá do jardim, até à “Praia Velha”, onde, na mesma altura, iremos ter a Paço de Arcos Night Sessions, com um conjunto inédito de Dj’s, dos quais destaco a abrir, Tomas Hedberg, Dj residente da discoteca Pacha, em Ibiza e, a fechar, os Da Providers (Bart Cruz, Henriq & Pool Boys).O título desta crónica junta o Irreal protagonizado pela ERC e o Social protagonizado pelas festas. Juntos, por sua vez, correspondem ao título de uma música dos BAN…lembram-se? “…popular, surrealizar por aí. Dá-me o ideal…idealizado, dá-me o irreal…o ilusório, não me dês moral…dá-me o ideal… ideal social, popular, avançado”. João Loureiro noutras lides…Portugal no seu melhor!

in Jornal de Oeiras, 25 ago./09

Tuesday, August 4, 2009

"O Regresso do Marcelismo"

Para quem ainda podia ter alguma dúvida sobre o caldo ideológico onde nada Manuela Ferreira Leite, a sua última intervenção pública, na recente Conferência do Diário Económico "Transformar Portugal", foi esclarecedora.
A intervenção da Dra. Ferreira Leite foi escrita e lida por ela, portanto parece-nos, que o Prof. Pacheco Pereira não poderá alegar, desta vez, que a líder do PSD não sabe falar, nem comunicar e diz, muitas vezes, coisas, que não têm qualquer aderência ao que verdadeiramente pensa.
A sua intervenção escrita e a resposta a algumas questões, colocadas por participantes na Conferência e transcritas no Diário Económico, corporizam o regresso à matriz do Marcelismo, que não se importa de suspender a Democracia por questões de paz social, crise económica ou por outra miudeza qualquer, a bem de Portugal e dos portugueses.
Diga-se a verdade que, embora o PPD/PSD tenha sido o grande albergue dos Marcelistas, que julgavam poder reformar o antigo regime por dentro, com operações cosméticas, este Partido, nunca foi dirigido por gente com esta matriz ideológica.
O tempo veio dar a razão a Luís Filipe Menezes, que foi visionário ao vislumbrar o perigo que ameaçava a base ideológica democrata e liberal do PPD. O PPD/PSD é hoje, efectivamente, dirigido por elitistas, sulistas e "liberais".
Elitistas, porque sempre pertenceram às elites, mesmo no antigo regime; sulistas, porque vivem há anos da ocupação de lugares de nomeação pública e dos favores da Capital do Império, por isso, nunca os verão a defender a regionalização e, finalmente, "liberais", porque defendem o Estado paternalista, que os ampara nas boas e más conjunturas, em detrimento de um Estado Social moderno. São uns "liberais", assim, assim, sob a batina de um Estado proteccionista, numa economia semi-aberta ao exterior e à concorrência. Nunca os verão defender o fim das corporações, eles personificam o corporativismo na verdadeira acepção da palavra.
Em suma, nada tem a ver com o liberalismo inspirador, que emergiu no Porto. Francisco Sá Carneiro, Mota Pinto e outros fundadores do PPD/PSD devem estar, neste momento, a dar voltas no túmulo, quando escutam esta defensora do casamento para efeitos reprodutivos.
A sua intervenção, nesta Conferência do Diário Económico, está tão cheia de pérolas, como vazia de soluções para os problemas dos portugueses.
Diz a Senhora que gosta dos ricos e tem pena de não ser rica, talvez por isso, queira "rasgar" e acabar com as políticas sociais e com o sistema nacional de saúde generalista e, tendencialmente, gratuito.
A Dra. Ferreira Leite ataca os investimentos públicos estruturantes, mas pertenceu ao Governo que, durante 10 anos, mais defendeu estes investimentos e não vivíamos nenhuma recessão económica, que justificasse esta intervenção do Estado na economia ou estaremos todos com Alzheimer.
Neste período, também designado como o ciclo do betão, os agentes económicos não estavam dependentes do Estado, aliás, nestes anos, não nasceram alguns dos grupos económicos, que hoje dominam a nossa economia, claro que não.
No próximo dia 27 de Setembro teremos, como não tínhamos há mais de 20 anos, um verdadeiro choque ideológico, entre quem defende, em pleno Século XXI, o regresso às políticas da "Primavera Marcelista" e, quem acredita num Portugal moderno, democrático e humanista, inserido numa sociedade global.

In Tribuna de Loures 31/Julh2009

Tuesday, July 21, 2009

Porquê votar em nós?

Aproximam-se tempos muito importantes e decisivos para os destinos do nosso país e dos nossos municípios.

Antes das férias e da mal-afamada silly season, parece-me oportuno trazer à colação os conteúdos que se irão discutir, na sua forma, mais até do que a forma dos conteúdos.

“A pergunta de um milhão de dólares” (com origens no quiz show da CBS Radio “Take it or Leave it”, 1940/47, mais tarde popularizada na ABC por Regis Philbin, a partir de 1999, com a versão americana do concurso “Who Wants To Be a Millionaire”), ou seja, a pergunta que toda a gente faz, aquela cuja resposta todas as pessoas procuram e que, por isso, se torna tão valiosa, pode resumir-se e, a partir daqui, ser o ponto de partida para (quase) tudo o resto, àquilo que queremos e àquilo que vamos fazer para obtermos aquilo que queremos.

Neste caso, a pergunta não pode deixar de ser, porquê votar em nós? O “nós”, aqui, não está personificado. Ele aplica-se a todos aqueles que somos candidatos às próximas eleições, sejam elas legislativas ou autárquicas. Os exemplos que abaixo são mencionados não passam disso mesmo.

Melhorar o que está bem…mudar o que está mal? O que é que isto quererá dizer de concreto que leve as pessoas a votar em nós? Levar as coisas a sério? Significa que os outros levam a brincar? Falar verdade? Então, mas os outros mentem? Avançar Portugal? Mal seria se quiséssemos recuar, embora tal seja muito infeliz, considerando que divergimos no crescimento económico face à UE, pelo menos, desde 1998 (há economistas que defendem que essa divergência pode ser extrapolada até desde o 25 de Abril). Unir Lisboa? Cumprimos? Lisboa com Sentido (a abertura do site é enjoativa, parece um carrossel)?

Os políticos (e os seus estrategas) têm por hábito assumir, nestas ocasiões, que se deve dizer aquilo que as pessoas querem ouvir. Nada de mais errado! O que é que interessa dizer aquilo que as pessoas querem ouvir se isso não corresponder àquilo que nós conseguimos ou vamos fazer?

Vamos ser sérios…as pessoas só acreditam em nós se já tivermos dado provas disso. E só os factos o podem confirmar. Logo, não devemos prometer aquilo que não podemos cumprir, assim, a primeira pista para a resposta à pergunta é, NÃO FAÇAM PROMESSAS, ESTABELEÇAM COMPROMISSOS. Mas também não pode ser uma coisa do género, “eu assino por baixo”…

Segunda pista, DIZER O QUE SE VAI FAZER. Resulta sempre melhor se já tivermos feito alguma coisa e, nesse caso, devemos ser afirmativos. Sim, Nós Fazemos, parece-me um bom lema.

Terceira pista, TER ESTRATÉGIA E VISÃO. Estratégia não é falar da impunidade dos outros, mas sim falar da nossa responsabilidade. Visão, não é vislumbrar os erros dos outros, mas sim acertar nas nossas escolhas, é estarmos à frente do nosso tempo. Em suma, devemos falar em nós e não nos outros e se não o conseguirmos fazer, é porque não temos nada de construtivo para dizer.

Em quarto lugar, AS PESSOAS….AS PESSOAS…AS PESSOAS. Andamos todos um bocadinho fartos de paixões, mas se tivermos de assumir alguma, só pode mesmo ser as pessoas. Em tudo aquilo que dissermos, fizermos, mostrarmos ou comprometermos, inteligentes – ou não – as pessoas têm de se rever de imediato, ou seja, quando votarem, as pessoas têm de sentir que não estão só a votar em nós, mas também em si próprias. É a única altura em que nos devemos preocupar com os outros.

Finalmente, é preciso sermos resilientes e É PRECISO ACREDITARMOS EM NÓS. Temos de vencer as dificuldades e ultrapassar os obstáculos. Se não acreditarmos naquilo que queremos e que podemos, como fazer os outros acreditar? Obama deu a resposta à sua “pergunta de um milhão de dólares”, Yes, We Can. Temos agora, nós, com base nas pistas que aqui deixo, de encontrar a nossa.

in Jornal de Oeiras, 21 jul./09

Tuesday, July 7, 2009

A Qualidade da Democracia e o futebol

Não são difíceis de identificar os principais problemas da nossa sociedade: a qualidade da democracia, a corrupção, a economia, as finanças, o défice, o PIB, a crise, o pós crise, o desemprego, o investimento, a competitividade, a justiça.

O acentuado declínio da confiança da opinião pública nas instituições políticas e no governo, a crescente alienação dos cidadãos em relação aos partidos políticos e a percepção generalizada que os políticos são potencialmente corruptos, egoístas e irresponsáveis, são comuns à maior parte das democracias e levou a que muitos argumentassem estarmos a viver uma ‘crise da democracia’. A qualidade da democracia é um tema válido e, ao mesmo tempo, controverso. Quem poderá definir o que constitui uma ‘boa’ democracia e em que extensão é possível afiançar uma concepção universal de qualidade democrática? Como é que os esforços para detectar deficiências na democracia podem evitar a elaboração de cenários paternalistas, nos quais as democracias consolidadas se assumem como garantidas e como modelos que podem escapar ao escrutínio? Como é que as avaliações da qualidade da democracia podem ir além de meras análises e podem ser úteis aos reformadores, aos activistas da sociedade civil e a todos os que procuram melhorar a qualidade da democracia?

Numa semana em que, não fosse mais um hilariante “Pine moment”, tudo se reduziria à discussão das eleições no Benfica, foram estas e outras questões que me levaram ao IDN para participar no IV Congresso da SEDES, que tinha como tema “A Qualidade da Democracia e o Pós Crise”.

Tirando o visível know-how na apresentação da Auditoria à Qualidade da Democracia em Portugal: A Perspectiva dos Cidadãos, dirigida por Pedro Magalhães, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa – e de onde se retira, como principal destaque, que a Justiça é um problema transversal ao desenvolvimento económico e social do país – assisti a uma enganadora avaliação de um Pós Crise que não tem nada de Pós e à descrição do meu país bem ao estilo de Smallville. O inquérito que está na base deste estudo foi adaptado de um inquérito-piloto obtido pelo projecto internacional Democracy Barometer for Established Democracies (DBED).

Para quem não sabe, Smallville é a terra onde aterrou o foguetão que transportou o Super-Homem (originariamente Kal-El, Filho das Estrelas) desde Krypton até ao nosso planeta. Para que se perceba, de imediato, a associação, registo que, por alguns anos, foi traduzida, no Brasil, como Pequenopólis…

Como seria preciso um super-herói para “salvar” o nosso país e isso não passa de mera ficção, não tive coragem de me envergonhar pelo retrato de Portugal descrito por Ronald Findlay, Professor de Economia na Columbia University (EUA). A nossa pequenez, nos meios académicos, é visível na primeira era da globalização, presente na época dos Descobrimentos, mas, até aí, o nosso Infante D. Henrique foi adoptado pelos britânicos como “Prince Henry, The Navigator”; e, nos meios populares, assumo eu, no “nosso” CR7. Este, curiosamente, também foi adoptado pelos britânicos, mas, como, entretanto, vem para Espanha, a adopção torna-se menos provável, dado que, para muitos, continuamos a não passar de uma província espanhola.

Nem a propósito, Findlay prossegue com uma enternecedora descrição das navegações…ibéricas! E eu acrescento: Iker Casillas; José Bosingwa, Pepe, Bruno Alves e Sergio Ramos; Xavi Hernández, Andrés Iniesta, Simão Sabrosa e Fernando Torres; Cristiano Ronaldo e David Villa.

É tudo tão mais simples quando se reduzem os problemas da nossa sociedade ao futebol.

in Jornal de Oeiras, 07 jun./09