Decepcionante a noticia que nos chega de Istambul, onde mais de 25.000 pessoas se reuniram em torno do V Fórum Mundial da Água, durante uma semana.
O Fórum terminou com um pedido de mais de 100 países a favor da luta por água limpa e saneamento para bilhões de pessoas, mas sem acordo quanto à noção de “direito ao acesso à água”.
Considerando estarmos perante a maior conferência da história sobre a crise da água, isto diz muito, mais uma vez, sobre a falta de coragem e, sobretudo, de sensibilidade das lideranças mundiais. Ainda sofrendo com as agruras das incompreensíveis e arrastadas negociações de Quioto e pós-Quioto, o mundo viu, mais uma vez, aqueles que o deviam encaminhar para a sustentabilidade, antes encaminhá-lo para o abismo.
Quando 1 bilião de pessoas sobre(vivem) com uma escassez quase absoluta em relação a este precioso liquido, não há discurso político, ou crise económica, que justifique uma tão incompreensível decisão.
O documento final estabelece uma série de recomendações, não obrigatórias, incluindo uma cooperação maior para acabar com as disputas sobre a água, medidas para evitar inundações e a escassez de água, uma administração melhor dos recursos e impedir a poluição de rios, lagos e lençóis freáticos. Mas, repito, não obrigatórias…
Alguns países tentaram incluir na declaração o reconhecimento ao acesso à água potável e ao saneamento como um "direito humano básico", ao invés de uma "necessidade humana básica", como está escrito no texto final.
A mudança foi bloqueada por representantes do Brasil, Egipto e Estados Unidos. Como compreender (ou talvez não…) esta atitude tomada pelos dois países onde se encontram os dois maiores rios do mundo (Amazonas, com 7.050.000 quilómetros quadrados de água e Nilo, com 3.400.000) e pelos Estados Unidos, que tanto apregoou uma mudança de rumo e assumiu, nesta nova administração, o Ambiente como uma das missões estratégicas da sua governação.
Felizmente que vinte países dissidentes assinaram uma declaração em separado para manifestar sua posição e muitos países, sobretudo da América Latina, já incluíram o acesso à água como um direito constitucional. Significa que nem tudo pode estar perdido e, se me é permitido, lanço um repto ao governo português para fazer o mesmo.
Localmente, bem andam os Municípios de Oeiras e Amadora que, conjuntamente e suportando-se nos respectivos Serviços Municipalizados, comemoraram, ontem, dia 22 de Março, da forma mais digna de que (para mim, pelo menos) há memória, o Dia Mundial da Água.
Foi uma tarde fantástica, passada no Parque dos Poetas, com inúmeras actividades ligadas às boas práticas na utilização da água, ao seu uso racional e ao apelo do consumo da água da torneira.
Por lá pudemos ver largas centenas de famílias, com especial destaque para os mais novos, que conviveram com o Panda, com o Gui Gotas e a Gotas Maria, mascotes do Clube da Água (marca SMAS para o Programa de Educação Ambiental) e participaram activamente no lançamento do roadshow que irá percorrer as escolas dos dois concelhos até ao dia 22 de Maio. É um espaço didáctico e pedagógico de formação e informação, que cumpre uma função primordial neste organismo público, a sua Responsabilidade Ambiental.
Tudo acabou em grande, com um magnífico concerto da cantora Ana Free, que passa a ser uma verdadeira Embaixadora da Água para os SMAS de Oeiras e Amadora.
Ainda que o V Fórum Mundial da Água não nos tenha trazido boas notícias, lá pensou-se globalmente, pelos vistos mal e cá agiu-se localmente, certamente bem.
in Jornal de Oeiras, 24 mar./09